terça-feira, maio 31, 2005

Garrafa ao Mar!

E, para quem a apanhar, que se amerceiem de nós…

"Gostava de saber como é que se começa isto:
Escrever a quem leio todos os dias. Às vezes até comento. Mas, as dúvidas não pagam dívidas.
Portanto, aqui vai:
O motivo não é o deficit, também conhecido como défice, não é o futebol, aliás, Portugal, nem o Governo, que cá em casa não estou autorizado a dizer palavrões.
É mais simples. Mais prosaico, e por isso mesmo mais difícil:
Apresento-lhe o novíssimo blog Homem ao Mar! em homem-ao-mar.blogspot.com para que, da sua experiência e pouco tempo, venha um mote, um empurrão, uma crítica.
Tem pouco sumo, ainda.
Ondas virão!
Eu sei. É poucochinho. Mas é de vontade! E a viagem promete!
Abraço
Manuel Ferrer"

Suplemento “A Europa” – nº1 ( NON pode ser lido separadamente )


Leio directamente da perna do pombo e nem acredito: Então, em França, a esquerda partiu-se aos bocados e vai de, em conjunto com a direita e a extrema direita ululante, vai, dizia eu, dizer NON ao Tratado Constitucional Europeu.
Faz lembrar aquela dos operários da velha Albion, que, nos primores da Revolução Industrial, e acossados pela repugnante acumulação primitiva do capital – a qualquer custo – se revoltaram …contra as máquinas e …partiram-nas!
Errou agora a esquerda em França. Ele há alianças que logo nos indicam se estamos no caminho certo ou no errado.
Diz-me uma carta que acabo de receber que também em Portugal há culpados de tentarem apoiar o OUI francês e que de entre eles se destaca o Presidente Sampaio. Diga-se em abono da verdade que o argumento me pareceu um bocadinho oportunista. Deve ser alguém que não gosta dele. Alguém a tentar ajustar contas antigas com um pretexto que na aparência, só nela, parece razoável:
Pois diz o ilustre causídico – pois trata-se de um – que como defensor da Constituição Portuguesa o PR não pode apoiar referendos que uma vez aprovados tornem subordinada a Cons. Port. à Europeia. À primeira vista parece um argumento que bóia. Mas não. Nem argumento é :
Primeiro, porque já hoje, à luz dos actuais tratados em vigor, as directivas europeias uma vez aprovadas em CE se sobrepõem às leis nacionais de cada membro da União. Aliás devem ser imediatamente transcritas para o nosso direito nacional !
Logo, argumento borda fora.
Segundo, porque a ser verdade que o PR deva em todas as circunstâncias defender a Constituição, então devia vetar todas e quaisquer alterações que lhe fossem submetidas viessem de onde viessem.
Não faz sentido, e prancha fora!
Terceiro, uma vez que a eventual vitória do OUI não teria - de facto – qualquer implicação no exterior da França e que se saiba eles já lá têm um PR…não colhe !

Notícias de Terra ! – 2

Afinal o sistema de comunicações é excelente e funciona mesmo.

Têm chegado notícias que se farta.
E então as últimas do governo são preocupantes. Tudo acções de emergência. Uma correria que só têm seis meses para conjugar um ano!
Para acertar as contas. Aqui a bordo já temos uma comissão para voltarmos para trás e pormos a nossa prancha ao serviço da pátria.
Dizem que só com uns passeios à beira mar é que isto vai…
Uns, mais destemidos, querem arrastar o Monstro e atirá-lo borda fora.
Outros, judiciosos, preferem nomear já uma comissão e apurar as culpas. Só depois usam a prancha. Também serve.

sexta-feira, maio 20, 2005

Notícias de Terra ! – 1

Finalmente o primeiro pombo chegou! Estafado e um bocado perdido, mas chegou.
Agora, todos em volta da perna do bicho, a ver se se percebe a notícia:
“BES, Jeimes BES !”
Será código ? Ou não será para nós? O pombo pode ter sido “escutado” no caminho?
Parece assim, não sei, a modos que uma palavra de passe. Um nome.
Uma senha.
Logo o piadista de serviço – temos por cá muito disso –
- Isto assim é uma seca
- Uma seca ?
- Pois, uma vargem seca!
Ainda peço a minha transferência para o departamento de cripto…

Notícias da Barca – 4

Para que se saiba, aqui vamos nós, mar a fora, mas, reparadas as velas e o cordame, que ontem ventou que se fartou, o Comandante pessoa de saberes e de muitas letras juntou-nos à ré e para nos levantar o moral contou-nos a história de Dien Bien Phu, nome esquisito esse, onde, disse, os franceses começaram a perder o império colonial e deixaram a camisa com as medalhas e tudo. Diz ele que faz agora uns 51 anos um exército de camponeses nos confins da Indochina, que se denominavam de viet-mins, se organizaram, transportaram durante noites a fio o armamento e as munições e, duma assentada, vai de destruir o melhor e mais organizado exército colonial, à sua época. E foram tantas as que deram na cabeça dos franceses que à falta de pranchas – que Dien Bien Phu é em terra firme – os oficiais e outras altas patentes deram foi uns tiros na cabeça ou foram feitos prisioneiros! Que aquilo foi sério. De dia e de noite aqueles viet-mins não deixaram os franceses em paz. Chumbo grosso para cima deles. Hoje, sabe-se, a arrogância e a suposta superioridade militar dos franceses levou-os cometer os erros do costume e a julgar-se senhores da situação. Então, à medida que a batalha decorria, mais de dois meses!, foram metendo mais e mais soldados nas fortificações enlameadas onde viviam enterrados sob o fogo dos viet-mins, esse tal exército de camponeses vestidos com pijamas e de chapéu de palha na cabeça. Foi uma luta desigual: Os franceses tinham tudo, até apoio aéreo, e os viet-mins não tinham nada mas estavam na terra deles. E aí residia a diferença. E a derrota foi tão grande que dois meses depois, em Genebra, em conversações directas com os representantes do povo vietnamita, os franceses se apressaram a pedir um cessar-fogo e a tratar de salvar o que podiam. O chefe do exército viet-min foi um tal Giap, figura de bonacheirão mas organizador de primeira que conduziu os seus homens a uma decisiva vitória sobre o colonialismo francês. Depois vieram os americanos a dar ordens e a colonizar a terra e que aquele mesmo Giap os avisou do que acontecera aos franceses. E eles, nada! Foram precisos mais 20 anos de guerra, agora contra os americanos e todo o seu poderio militar para, de novo, os derrotar e foi vê-los a saltar para os últimos aviões, helicópteros e barcos a fugirem desesperados, abandonando todo o equipamento. Como se saltassem da prancha!
Eu pergunto-me porque será que estes feitos militares e os seus heróis andam tão esquecidos dos nossos jornais e televisões ? Será isto para esquecer ? Agora reparo que só nos dão ou filmes dos peixinhos no mar ou dos americanos na Lua…que isto das guerras coloniais é muito bonito mas, na minha modesta opinião, até à data, não tem dado grandes resultados…Na altura parece tudo bem. Até dá uns votos e tudo, depois das paradas vêm os funerais e a seguir as manifs, os motins, as sarrafuscas e está o caldo entornado!
O nosso Comandante disse que tinha uma teoria que explicava tudo isso e que um dia nos contava! Fico à espera. Eu e a prancha!

quinta-feira, maio 12, 2005

Notícias da Barca – 3


Agora estou todo entusiasmado. Descobri que o Imediato, que é quem tem o programa da viagem, afinal montou um sistema de comunicações com a pátria. Foi ele que explicou para que é que eram aqueles pombos todos que tínhamos nas gaiolas. Era para mandar mensagens à pátria e dela recebermos na volta, as notícias tão estremecidas que, estou certo nos vão encher de orgulho. Este Imediato é o máximo. Noutro dia, explicou-nos porque é que o anterior Imediato tinha saltado. Da prancha, calculo. Foi que não estudava os mapas e se metia em aventuras que acabavam mal. Que gastara o que tinha e o que não tinha para obras de fachada na casa dele e na dos amigos. Que tinha prometido dar casa aos jovens, e nada. Um ror de asneiras. Este, não. Parece que quer mesmo acabar a viagem. Ah, mas afastei-me do pombal que era o motivo deste post. Ontem mesmo seguiu o primeiro pombo com as notícias de bordo e espera-se a chegada, a todo o momento, das da pátria que devem ser boas. Nem outra coisa seria de esperar visto que à parte aqueles casos – felizmente já resolvidos – da colocação dos professores e do contrato da empresa dos amigos dos ministros da coroa ( coroa, escudo e euro ! ), e outro da burla ao fisco duma quantidade de gente ligada ao futebol e de outro, que se bem me lembra, era sobre qualquer coisa como Paraísos Fiscais, Casas Pias e Espíritos Santos. Agora é que reparo: Não pode ser! A trafulhice de braço dado com tudo o que é mais santo !? Ora reparem. Paraísos, Pios e Espíritos Santos. Só mentes muito perversas, e a pedir um passeio na prancha, é que se lembrariam de meter no mesmo saco as roubalheiras e as acções do Senhor. Estão a ver? Até eu me engano! Que disparate. Acções do Senhor ! Ou bem que são acções, ou bem que são do Senhor, que era um pelintra e morreu quase nu. Que se saiba não possuía nada de seu. Nem conta bancária, nem nada. Se tivesse ido ao banco fazer um empréstimo, teria evitado ser crucificado. Tinham-lhe era soltado os cães.

quarta-feira, maio 11, 2005

Notícias da Barca – 2


Isto aqui a bordo vai complicado: O Comandante ontem juntou a marujada na ré e vai de avisar que o trabalho andava uma merda, nas aulas. É, eu já me esquecia de avisar que aqui foram instituídas aulas, levamos professores, papel e lápis. Burburinho. Os senhores professores doutores reitores até disseram que aquilo nunca se vira. Um destrambelho. Mandar averiguar como é que iam as escolas?! O aproveitamento!? Era só o que faltava. Ele que não se esquecesse que muitos deles andavam numa roda-viva da proa à ré, de estibordo a bombordo, da gávea ao mastro grande a dar aulas e a ensinar esta marujada já de si tão ingrata e tão ignara a ver se faziam deles homens. Que, se a finalidade das aulas era essa, a de alguns aprenderem alguma coisa, que então estava tudo mal. A finalidade eram as aulas, e eles davam-nas em quantidade e sobre matérias candentes. Claro que podiam porventura melhorar alguns aspectos. Talvez mais visitas de estudo e de formação para os docentes. Parava-se a barca e eles desembarcariam numas ilhas de que tinham ouvido falar onde os congressos e as semanas de estudo intensivo lhes haviam de fazer bem. Mal não fariam, diziam. Ficámos divididos. Uns diziam que para se verem livres deles a ideia das Ilhas dos Congressos lhes parecia muito bem. Outros, os do lado esquerdo, bombordo, gritando que afinal voltariam os mesmos, correram a encerar a prancha e faziam sons como “ploffff!”e “Gluglu” e ainda outros menos fáceis de vos transmitir. Depois o Comandante deu de ombros e deu também mais um tempo a ver se aquilo melhorava. É que se não melhora o remédio vai ser “ meia dúzia de passos em frente” e pluf. Homem ao mar! E não empurrem. Um de cada vez ! Há espaço para todos trinta braças mais abaixo.

Notícias da Barca - 1


Zarpámos finalmente. O ferro não queria ser içado. Levou o seu tempo. Mas aqui vamos, mar adentro, e já não há muita terra à vista. Temos é que nos concentrar na nossa navegação. Evitar escolhos. Bolinar. Escolher ventos. Procurar marés. E sobretudo, seguir o plano de viagem.
Ao contrário do que estava em uso até há pouco, não houve missa de despedida. Achei que não carecia. Ainda me lembro dos últimos que até levaram dois bispos a bordo e aquilo deu para o torto. Era o Timor. Bateram de frente. Com mar chão! Deviam estar distraídos com algum sermão, uma catequese, um responso. Coisas da vida.
Pouco se salvou do Timor. Tinham até organizado umas eleições para saber quem mandaria. Qual o rumo. E zás! De cabeça para baixo. Mar em volta. Muitos já sem vontade de se salvarem e aos seus. Vai é de se desenrascarem, os mais afoitos. O mar tudo invadiu. Os livros escritos, poucos, foram levados com as ondas. Qual eleições, qual nada. Cada um por si. Os santinhos, esses boiaram, que eram de pau. O resto afundou.
Não foi por falta de missas. Terá sido por excesso? Que digo !?