segunda-feira, maio 26, 2008

Um salto em frente...ou no abismo!


Debato-me entre a vontade de denunciar todo o horror provocado pela construção deficiente de edifícios escolares na China e a de querer evitar que este luto terrível sirva argumentos a quem os não merece, para atacar a RPC, nação que nasce do colonialismo inglês e do imperialismo americano e japonês. Não me esqueço disto tudo. No entanto...
Há limites abaixo dos quais não coloco a minha consciência.

De facto verifica-se hoje que muitas escolas chinesas simplesmente desapareceram da Terra. Esboroaram-se literalmente! Enterrando em vida muitos milhares de crianças pequeninas.
Como horror parecia-me que bastava:

- Seriam talvez edifícios velhos, pensava eu, provavelmente feitos sem ser para aquela finalidade, dizia para comigo. Possivelemente em terrenos mal escolhidos...

Infelizmente estava errado e estou revoltado com um sistema que permitiu/organizou que as coisas se passassem do seguinte modo:

Como se sabe, aos casais chineses só é permitido terem um filho para dele cuidarem o melhor possível e que os apoiará na velhice. Esta é a política de Segurança Social para as massas.

Ora esta "política" é perversa. O que ela promove é a proletarização do campesinato a qq preço.

Os pais, prevendo a própria velhice, investem aquilo que têm, e o que não têm, na educação dos filhos, na esperança que se tornem em verdadeiros Certificados de Aforro com pernas e braços para trabalhar. Em vista dos magros recursos que o campo proporciona, e verificando que só se enviarem os filhos para uma escola, seja barata ou mesmo gratuíta ( isso não sei! ) podem garantir algum sustento na velhice, deixam os filhos na terra, entregues seja a quem for, e partem para os grandes aglomerados a venderem a sua força de trabalho, sem fins-de-semana, sem férias, sem contrato de trabalho, sem formação profissional. Vão constituir um exército de voluntários que apenas desejam sobreviver, até que o filho único seja capaz de os manter na velhice.
Declaro que nunca tinha percebido esta política e o seu alcance maquiavélico. Acho que nunca nada semelhante tinha sido tentado nesta área e com estes efeitos.

Continuava enganado e não sabia quanto.

O pior estava para vir. Aqui chegado, o Estado Chinês, o que é o mesmo dizer o PCC, verifica que não tem escolas suficientes para acolher todas as crianças e deita-se a construir à pressa e por todo o lado as tais escolas para suporte desta política de massas.

Mas, como há dois tipos de cidadãos: Os membros do Partido - onde dizem que é difícil entrar - e as grandes massas, há também dois tipos de escolas. Umas, construídas por profissionais, com bons projectos e acabamentos, professores escolhidos e demais mordomias e, há as outras, de construção rápida, em regime de voluntariado, por pessoal não especializado, todos os prisioneiros que foi possível arrebanhar, com um mínimo de materiais, sem vistorias ou licenças de habitabilidade.

Não é preciso dizer-vos que as primeiras são para os membros da classe dirigente ( seja ela qual for ! ) e que as segundas, servem para os filhos dos operários das grandes fábricas nas imensas cidades, sem direitos ou regalias de qq espécie, prisioneiros do sistema montado sobre a sua carne...

Mas um terramoto abalou todo o sistema e deixou a nu a revoltante realidade: As escolas dos filhos dos membros do Partido não caíram e continuam de pé. As dos filhos dos operários transformaram-se nos seus túmulos! às dezenas de milhares!

Por muita consideração que se tenha pelos avanços conseguidos pelos comunistas , em apenas duas ou três gerações, ele há políticas tão perversas que só podem merecer o maior desprezo e repulsa. E os seus autores e responsáveis deveriam ser julgados em Nuremberga! Por crimes contra a Humanidade!
Os fins não justificam todos os meios.
Na foto acima pode ver-se, em primeiro plano, o monte de ruínas a que ficou reduzida a escola.
À esquerda, a creche para os filhos dos dirigentes e ao fundo, à direita, um hotel. Ambos em bom estado.
Poderia continuar este post com o rol das fábricas que também abateram sobre os operários e falando da "competição" que é necessário fazer aos produtos que de lá vêm. Fica para depois que estou enojado!

Sem comentários: