segunda-feira, maio 23, 2011

A ex-ministra da Educação considera que o futuro coletivo depende da melhoria das qualificações de todos os portugueses e não só dos jovens

Novas oportunidades para o país
Maria de Lurdes Rodrigues



"O programa Novas Oportunidades foi usado na campanha eleitoral, pela direção do PSD, para marcar a diferença com o PS. É pena que assim seja, porque significa que se está a abrir uma clivagem onde antes existia convergência sustentada numa ampla base social de apoio. Nos termos em que a discussão foi aberta, chamando-se ignorantes aos adultos que frequentam o programa e desacreditando-se a atividade profissional dos professores e formadores, não há es paço para avaliar e melhorar o que se faz. Uma coisa são as dúvidas legítimas que podemos ter sobre um programa inovador nas metodologias e surpreendente na mobilização de adultos e formadores. Ou, ainda, as exigências legítimas de melhoria dos mecanismos de avaliação da qualidade do programa. Coisa bem diferente é o preconceito como bandeira eleitoral.

Os tempos que vivemos não recomendam o desperdício das energias mobilizadas num programa como o Novas Oportunidades. Nem, muito menos, a descontinuidade de ações que efetivamente contam porque melhoram a vida das pessoas e mudam o país, tornando-o mais moderno e justo, independentemente de quem lançou, concretizou ou idealizou essas ações. Considero im portante, neste contexto, lembrar alguns factos. Em primeiro lugar, lembrar que, ao longo de muitos anos, sustentámos o desenvolvimento do país com o trabalho de adultos que não tiveram oportunidade de frequentar a escola, começando a trabalhar ainda adolescentes.


Os tempos mudaram, e hoje o nosso futuro coletivo depende da melhoria das qualificações de todos os portugueses, não apenas dos jovens que estão na escola, mas também dos adultos que estão no mercado de trabalho. Novas oportunidades para os adultos que as não tiveram no passado são também novas oportunidades para o desenvolvimento, hoje, do país. Em segundo lugar, lembrar que a avaliação externa do programa Novas Oportunidades é mais exigente do que a de outros segmentos do sistema de ensino e formação. Lembrar que os adultos são sujeitos a provas públicas com júri externo e com classificação, tendo muitos deles superado com êxito provas de acesso à universidade. Podemos considerar que há mais a fazer neste campo, que o sistema tem falhas que devem ser corrigidas, mas nada autoriza o lançamento do descrédito sobre o muito que já se faz. Em terceiro lugar, lembrar que processos de reconhecimento de competências escolares e profissionais existem há muito e em muitos países, /1 nos níveis básico e secundário rio, ou mesmo, em alguns casos, no ensino superior. De facto, o que nos distingue de outros países da UE e da OCDE é o atraso com que estamos a generalizar os processos de reconhecimento de competências e conhecimentos adquiridos através da experiência do trabalho, não o seu âmbito. Concluindo, o programa Novas Oportunidades cria oportunidades reais para superar o défice de qualificação da população ativa e contribui, por essa via, para a modernização social e económica do país. As críticas destrutivas que agora lhe foram dirigidas, em parte explicáveis pelo imediatismo eleitoralista, são alimentadas por orientações con- servadoras e elitistas, antiliberais e anti-humanistas. Afastam por isso os seus autores não ape nas do PS, mas também do património político do próprio PSD." In Expresso

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