terça-feira, junho 01, 2010

Estarei sozinho em Portugal? Ou apenas fora do tempo?

Quando em 64 recusava a guerra colonial, os filhos dos colonos olhavam para mim com se tivesse descido de um disco voador. E fiquei só.
Depois, especializado em minas e armadilhas, sempre estive só nos alarmes e nos medos...
Por ser branco, senti a exclusão vinda dos dois lados. Sozinho!
Quando vi partir os colonos, mais os que riam do que eu dissera dos direitos dos povos, teria ficado só, não fora a solidariedade praticada por uma elite internacionalista.
Quando a deriva esquerdista e irresponsável se defrontou com as contradições do nacionalismo de vistas curtas, decidi partir, arrancar de mim todas as saudades do que não existia, nem do que não ía ser construido. Nem foi!
Regressei, à beira dum ataque de nervos, e convencido da impossibilidade de mais esperança.
Foi por pouco que, sozinho, perante os avanços da direita, da sua imensa ignorância e irresponsabilidade dos governos de Cavaco, não parti, outra vez...
Voltei a encher os pneus de esperança e, com a imaginação do governo de Sócrates, apesar de tudo, achei que de então em diante, talvez pudesse sentir a tribo a que julgo pertencer. A esquerda.
Mas, perante as reacções contra as medidas que afectavam um poucochinho meia dúzia de corporações, comecei a sentir-me de novo mais isolado.
As manifs dos professores, e sei do que falo, mostraram a impossibilidade desta democracia se regenerar, ou de deixar amadurecer os frutos.
De dentro do próprio PS a linha oportunista e que tinha estado 30 anos sentada nas almofadas do poder e das mordomias, decidiu que aquelas medidas eram pouco populares. Que o que o Governo devia fazer era aumentar as réditos, aos que nem 30 horas queriam trabalhar por semana.
Essa auto-esquerda até ameaçou ir fazer um outro partido mais socialista, com muito mais Pátria, com as verdadeiras tradições do Povo, com caçadas às rolas e batidas ao javali, devolvida ao remanso do campo e excomungado o bulício das cidades.
Era a expressão prática duma receita que continha refinados ingredientes a crédito de Enver Hoxa, de Pol Pot, da Madre Teresa, de Fidel, da Rerum Novarum, do Vaticano II, de meia-dúzia de artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem..., do Manifesto...
É verdade! Tratou-se de um verdadeiro pic-nique de "direitos". Foi ver quem se lembrava de mais um!
Acabada a romaria, contados os vivos, os meio-mortos, e os mortos-mesmo, esta "verdadeira esquerda", desperta para os direitos, e cega para os deveres, vai agora arrastar o PS para a próxima derrota e para a entrega numa bandeja, das esperanças que tivemos, e que vão ser deitadas fora com a água do banho.
Vou continuar sozinho.
Também já devia ter aprendido a lição!

5 comentários:

Francisco Clamote disse...

Meu caro:
Vejo que está um tanto pessimista. Deixe lá que atrás de tempo, tempo virá. Melhores dias virão. Haja esperança.Não desanimemos. Abraço.

Unknown disse...

NÃO, SR.MFERRER, NÃO ESTÁ SOZINHO. JULGO QUE HÁ MUITO PORTUGUESES, A PENSAR COMO O SR.. ESSA LINHA OPORTUNISTA, QUE O SR. REFERE, PARA MIM SÃO TRAIDORES À PÁTRIA, INDIGNOS DE SEREM LUSITANOS. NÃO VOU DIZER QUAL A SOLUÇÃO, PORQUE JÁ SEI QUE O SR. NÃO CONCORDA...

Sofia C. disse...

Gosto muito de ler o que escreve. Por isso, hoje comento o seu post. Não está nada sózinho. Mas assim se faz a democracia e assim se aprendem as lições, apesar de ser devagar, é mais depressa do que noutros tempos.
Há massa crítica, e ela tem de saber viver independentemente de quem a governa. Não esmoreça:-) Sofia

MFerrer disse...

Carísimos,
Obrigado pelas vossas palavras tão solidárias.
Não atravessamos tempos fáceis ou estimulantes. Esta a razão para um certo intimismo de que tenho que me curar.
Mas...a luta continua e a vitória é certa, não é?
Aquele abraço!

Rogério G.V. Pereira disse...

Depois do que li, dizer que se sente sózinho?
No comentário, diz ter de se curar?
Curar de quê, com um itenerário que considero saudável? A amargura e o desencanto só seriam doença, se não alertasse "Homem ao Mar"...

Mas fecha bem este post:

A luta continua e a vitória é certa!

(outra coisa: vejo-me aqui a bombordo, maa não o vejo no meu estibordo? Não sei marear, será que me está a acompanhar?).

Abraço