segunda-feira, julho 11, 2005

Na borda da prancha - 2

Tenho uma proposta a fazer. Melhor, não é bem uma proposta. É mais uma espécie de jogo de perguntas e de respostas. O assunto é melindroso e pode até ferir sensibilidades. Vou botar uma argola vermelhinha neste post. Vai ficar original e talvez as críticas se fiquem pela fugaz saudação, o sorriso complacente ou o encolher de ombros e se evitem assim outras expressões envolvendo familiares. Preparados?
Ora aqui vai:
#1 - Quando os Ingleses dividiram o Médio-Oriente dando riqueza a uns seus aliados e pedras a todos os outros, estes deveriam :
a)Cantar o God save the Queen
b)Rezar e boca calada
c)Emigrar
d)Inscrever-se no British Council e aprender Inglês fluente
e)Lutar por aquilo que era deles
#2 - Quando os Israelitas, armados com as mais modernas armas por ingleses e franceses, expulsaram das suas casas e das suas terras três milhões de palestinianos amontoando-os em campos de refugiados no Líbano, estes deveriam:
a)Investir as suas poupanças nos Bancos Suiços
b)Constituir-se em partidos políticos de caráter parlamentar
c)Escrever às embaixadas ocidentais a expor a sua situação
d)Reemigrar
e)Lutar contra aqueles que os martirizavam
#3 - Quando a ONU condenou Israel, dezenas de vezes, pela usurpação de terra palestina; Quando a ONU ordenou a Israel a devolução da terra, da água e dos bens palestinos de que se tinha apoderado "manu militari", os palestinos e seus aliados árabes deveriam:
a)Ter-se voltado para Meca e pedido a Alá que intercedesse por eles junto do governo de Israel
b)Enviar delegações às feiras comerciais de produtos artesanais
c)Fazer um peditório à porta das Sinagogas mais próximas
d)Pedir ao invasor uns passes especiais a permitir que as palestinianas grávidas tivessem acesso ao hospital
e)Organizarem-se para fazer frente ao invasor
#4 - Quando, os Ingleses e Americanos colocaram no poder, na maioria dos chamados Estados Árabes, umas famílias de iluminados, devidamente apoiados na melhor ortodoxia muçulmana e na mais bem treinada polícia política, garantindo assim, duma só penada, que o poder estivesse bem entregue e que os investimentos do dinheiro do petóleo seriam, realizados, em primeiro lugar, nos bancos e nas empresas anglo-americanas,os súbditos deveriam:
a)Emigrar
b)Criar Associações Recreativas e Culturais de apoio às famílias no poder
c)Ler e reler o Corão a tentar vislumbrar onde é que estava a justificação para tanta injustiça
d)Aliar-se à clique dirigente esperando uma esmola piedosa do muito que lhes sobra
e)Revoltar-se contra os respectivos Governos e contra quem os suporta
#5 - Quando os Americanos armaram o regime de Sadam e o ajudaram na sua louca guerra contra o regime do Irão que tinha acabado de se erguer de dezenas de anos de ditadura do aliado americano Xá da Pérsia; Quando armaram Sadam com as armas químicas que usou amplamente contra o exército do Irão e também contra outro espinho cravado na bota de um dos aliados principais dos americanos, e falo da Turquia e no povo Curdo, os iraquianos deveriam:
a)Gravar na memória as vantagens de ter aliados especialistas em armamento químico
b)Destruir completamente o perigoso regime do Irão e reinstalar o Xá no poder
c)Promover a produção local de armas químicas
d)Inscrever-se na Guarda Republicana de Sadam
e)Organizar a luta clandestina contra Sadam e seus aliados
#6 - Quando os Americanos organizaram o grande embuste das WMD e tiveram o empenhado apoio de Ingleses, Polacos, Portugueses, Italianos, Australianos, Austríacos, etc., e justificaram assim a invasão do Iraque; Quando bombardearam com as mais modernas bombas de fragmentação, de perfuração, de blindagem de urânio, de controlo GPS, de retardamento, de baixa, média e grande altitude, todos os alvos possíveis, militares e sociais, culturais e organizacionais, Quando as bombas caíram aos milhares sobre zonas militares e zonas civis, universidades e escolas, hospitais e embaixadas; Quando, apesar da ausência de resposta militar do regime de Sadam, os bombardeamentos continuaram de dia e de noite; Quando a caça aos soldados no meio do deserto se transformou num verdadeiro tiro aos patos; Quando a humilhação de todos os países árabes se tornou evidente; quando, só o regime fantoche da Arábia Sáudita, deu mostras de compreender e apoiar os americanos;Quando até o Papa João Paulo II condenava os preparativos para a guerra e o seu início, os árabes deviam:
a)Escrever a Kofi Anam a pedir ajuda
b)Poupar gasolina e aumentar as exportações
c)Aumentar os depósitos a prazo na banca americana e os investimentos no NYSE
d)Nada fazer
e)Espalhar a capacidade organizativa para levar a luta do seu território ao território dos inimigos e fazê-los também sofrer o horror da guerra
#7 - Quando, milhares de prisioneiros são conservados em condições que violam todas as regras civilizacionais, em barcos prisões, em bases militares americanas espalhadas pelo mundo, sem quaisquer direitos de defesa e vítimas de toda a espécie de brutalidades, como em Abu Grahib; Quando não têm direito a um julgamento nem a serem sequer identificados; Quando, afinal estão civil e militarmente mortos, sem culpa formada e ou limite temporal de prisão; O que restará às suas famílias fazer? E aos seus amigos? Aos amigos das suas famílias? Aos que os amaram?
a)Não se esquecerem de lhes enviar um folar pela Pásqua
b)Preparar-lhes um curso de inglês por correspondência
c)Esquecerem-se deles
d)Constituirem advogado
e)Tudo fazerem para difundir uma sangrenta vingança contra tudo quanto seja ocidental, cristão, judeu e americano. Custe muito ou custe pouco.

Espero sinceramente que tenham conseguido chegar ao fim do jogo. Não era para ser simpático ou próprio para salões bem-pensantes.
Está um bocado arrebenta, isso está.
Cheira a petróleo que tresanda.
Mas, aqui na barca, a própria prancha está ali a dar-nos ideias. A propor justiça.
Aliás, a justiça começa exactamente onde acaba a prancha!

P.S.- As respostas certas podem ser lidas, todos os dias, em rigoroso exclusivo, nas primeiras páginas dos melhores diários de todo o Mundo e na aberturta dos melhores tele-jornais mediante um acordo firmado entre o Homem ao Mar! e esses orgãos de comunicação social. Palavra!

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