segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Os crimes e os alibis

Em necessitado socorro dos agravados muçulmanos, seguidores do profeta, surge hoje uma voz de cuja independência não me cabe duvidar. É verdade. Do alto da sua imensa compreensão do mundo e dos homens, vem, donde devia vir, a paladina inteligência e a oportunidade do comentário: -"Compreendo muito bem a ofensa sentida e sofrida na sua fé, pelos árabes, e pela razão da blasfémia cometida" E não vem apenas apoiar os ofendidos. Mostra uma indesfarsável satisfação pelos resultados obtidos. Até os encoraja a prosseguirem a caminho da absoluta desgraça que iniciaram. Ao ver este quadro, eu que sofro de irreprimível sensibilidade para entrever os mais delicados actos de altruismo e de comiseração para com os fracos e desvalidos, eu, dizia, lembrava-me das vezes que os criminosos indicavam a Poirot o melhor caminho para que se enganasse completamente na busca dos verdadeiros culpados! Só que desta vez a indicação, o comentário, saiu da boca de J. W. Bush !

A religião dos outros e o seu sangue

Compreendo o impulso destruidor dos que nada têm a perder. Sempre assim foi. Não é da política, nem da razão, nem sequer da religião do que falo. É da lei da física que fala da acção e da reacção. A compreensão do mundo, por via dos que dele nada têm, é proporcional à discriminação social de que padecem. Aliás, organizada. Vejamos então: Quem se manifesta e em que Países isso ocorre? - Nos que reservam às suas populações os mais baixos níveis de escolaridade, de saúde e de vida. - Naqueles onde a discriminação é mais gritante e onde as diferenças sociais se medem aos milhões de dólares. - E em todos onde a super-estrutura religiosa concorre em intolerância com o poder instituído. Barril de petróleo a barril de petróleo. Depois, nos outros, a intolerância religiosa, seja ela qual for, assume a "independência" e passa a ter vida própria: Substitui-se aos comandos civis e proclama decretos, declara guerras e até as inicia. As potências ocidentais e coloniais que dividiram a Irlanda, os Balcãs, a Palestina, o Médio Oriente e a África e que, ao longo de gerações, condenaram povos inteiros aos martírios das separações, às mais sangrentas humilhações, que utilizaram a seu favor as intolerâncias religiosas e que as a(r)maram, que esperavam? As mesmas potências que perpetuaram no poder as famílias de déspotas e de angariadores de fundos que eles mesmos, uma e outra vez, voltavam a reinvestir nos bancos dos Senhores, de que estavam à espera? Aqueles que recorrentemente foram trocando cada prisioneiro, cada assassínio, cada mártir, por um punhado de dólares mais, esperavam colher os frutos da tolerância e da racionalidade? Este é o caldo de cultura que foi longamente apurado pelas potências exploradoras e coloniais. O poder anti-democrático foi justificado pela religião que serviu, como uma luva. Mas infelizmente há mais: Na origem destes acontecimentos, está um acto espontâneo ou uma maquinação? Os cartoonistas desataram de repente a fazer, todos, caricaturas do profeta, por sua alta recriação, ou estamos perante um fenómeno totalmente encomendado, destinado a “justificar” às populações das democracias, as novas matanças, as novas divisões e a defesa do seu bem estar social? As novas intervenções, ou, o que é o mesmo, o actual preço do barril do petróleo?: - Todas as noites, milhares de TVs vão mostrar-nos como são antipáticos, feios, barbudos, intolerantes e mal vestidos, esses que se manifestam ofendidos em nome de um Deus, que não é o nosso e que, mostram-nos, exige vingança! Às próximas cruzadas prevejo grande afluência. De um lado e de outro. Aos simples está, de facto, reservado um lugar em todos os cemitérios.