Para que se saiba, aqui vamos nós, mar a fora, mas, reparadas as velas e o cordame, que ontem ventou que se fartou, o Comandante pessoa de saberes e de muitas letras juntou-nos à ré e para nos levantar o moral contou-nos a história de Dien Bien Phu, nome esquisito esse, onde, disse, os franceses começaram a perder o império colonial e deixaram a camisa com as medalhas e tudo. Diz ele que faz agora uns 51 anos um exército de camponeses nos confins da Indochina, que se denominavam de viet-mins, se organizaram, transportaram durante noites a fio o armamento e as munições e, duma assentada, vai de destruir o melhor e mais organizado exército colonial, à sua época. E foram tantas as que deram na cabeça dos franceses que à falta de pranchas – que Dien Bien Phu é em terra firme – os oficiais e outras altas patentes deram foi uns tiros na cabeça ou foram feitos prisioneiros! Que aquilo foi sério. De dia e de noite aqueles viet-mins não deixaram os franceses em paz. Chumbo grosso para cima deles. Hoje, sabe-se, a arrogância e a suposta superioridade militar dos franceses levou-os cometer os erros do costume e a julgar-se senhores da situação. Então, à medida que a batalha decorria, mais de dois meses!, foram metendo mais e mais soldados nas fortificações enlameadas onde viviam enterrados sob o fogo dos viet-mins, esse tal exército de camponeses vestidos com pijamas e de chapéu de palha na cabeça. Foi uma luta desigual: Os franceses tinham tudo, até apoio aéreo, e os viet-mins não tinham nada mas estavam na terra deles. E aí residia a diferença. E a derrota foi tão grande que dois meses depois, em Genebra, em conversações directas com os representantes do povo vietnamita, os franceses se apressaram a pedir um cessar-fogo e a tratar de salvar o que podiam. O chefe do exército viet-min foi um tal Giap, figura de bonacheirão mas organizador de primeira que conduziu os seus homens a uma decisiva vitória sobre o colonialismo francês. Depois vieram os americanos a dar ordens e a colonizar a terra e que aquele mesmo Giap os avisou do que acontecera aos franceses. E eles, nada! Foram precisos mais 20 anos de guerra, agora contra os americanos e todo o seu poderio militar para, de novo, os derrotar e foi vê-los a saltar para os últimos aviões, helicópteros e barcos a fugirem desesperados, abandonando todo o equipamento. Como se saltassem da prancha!
Eu pergunto-me porque será que estes feitos militares e os seus heróis andam tão esquecidos dos nossos jornais e televisões ? Será isto para esquecer ? Agora reparo que só nos dão ou filmes dos peixinhos no mar ou dos americanos na Lua…que isto das guerras coloniais é muito bonito mas, na minha modesta opinião, até à data, não tem dado grandes resultados…Na altura parece tudo bem. Até dá uns votos e tudo, depois das paradas vêm os funerais e a seguir as manifs, os motins, as sarrafuscas e está o caldo entornado!
O nosso Comandante disse que tinha uma teoria que explicava tudo isso e que um dia nos contava! Fico à espera. Eu e a prancha!