segunda-feira, outubro 31, 2011

Sei, não sou como esses letrados mesmo,

Que se desdobrem em citações das leituras que não fiz. Li outras. Aliás, todos lemos outras! Umas mais românticas, outras mais ideológicas, mas eu criei galinhas!, enquanto vós vos cultiváveis de autores indispensáveis e de cursos socialmente reconhecidos. Quem se pode gabar de ter criado galinhas, aos milhões? Quem se pode gabar de ter visto nascer milhões de pintainhos? De tudo ter feito para transformar um embrião num ser bípede, para assar no espeto?? Também não espero que me respondam, que a pergunta é uma sacanice. Um acto do mais puro snobismo. Percebo-vos! E nem se lembrem de me agradar! eu sou um deserdado do Antero!

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!

Antero de Quental, in "Sonetos"

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