O epitáfio de José Manuel Fernandes no seu Editorial do ódio
Eu não sei se é verdadeiro o boato que corre há um mês sobre o futuro de José Manuel Fernandes estar ligado ao recém eleito presidente da comissão europeia e à sua assessoria de imprensa. Afinidades antigas. E o homem tem trabalhado para isso. Não sei se no PSD recompensam meramente o esforço: ele tentou levar a Dra. Manuela ao colo, e foi conivente com as estratégias presidenciais. Mas a verdade é o que o eleitorado que Vasco Graça Moura chama de estúpido por não ter caído na artimanha (não será antes estúpido quem idealizou a estratégia?) viu o golpe. E não fez ao jeito ao JMF e ao tacho que procurava.
Nesse sentido JMF esforça-se uma última vez e escreve um hilário e decadente editorial no Público de hoje. Em que critica sob todas as formas o novo governo. Com aspectos a merecerem uma sonora gargalhada. Vejamos:
1) José Manuel Fernandes está contra a escolha do novo Ministro das obras públicas por ter sido um dos subscritores do manifesto a favor dos grandes investimentos públicos para ajudar à retoma da economia portuguesa. Tendo subscrito o mesmo documento, e tendo interpelado José Manuel Fernandes várias vezes porque não o publicou, quando na semana anterior deu voz a uma tese contrária com metade dos subscritores (com honras de primeira página no público, e uma página inteira de publicidade paga pelo dito movimento, promovido por figuras afectas ao PSD), tendo esta discrepância de tratamentos merecido forte reprimenda do Provedor, dá um gozo particular ver o forma como espuma por mais mais essa derrota. Ele queria um dos "seus economistas", não um dos que assinaram o manifesto pelo emprego. José Manuel Fernandes, com a sua vastíssima formação económica, está preocupado com o endividamento externo das novas obras públicas. Se lesse a blogosfera saberia porque é que há quem não esteja. Porque conhece de facto a estrutura de financiamento do TGV por exemplo, e as suas estimativas de procura. Coisas que JMF sempre optou por ignorar.
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2) José Manuel Fernandes manifesta o seu desapontamento pela falta de figuras conhecidas. O que significa figuras que ele conheça. Alguém tem alguma culpa da ignorância do homem? Figuras de grande projecção pública? São o quê? Colunistas do seu jornal? Prefere JMF a projecção pública ou a competência? E se desconhece as novas figuras, como pode aferir a sua competência? Ser uma figura pública não implica ter experiência política. O pobre raciocínio do futuro ex-director do Público não distingue as duas coisas. Se ele queria gente com capacidade política provada, não havia renovação. Se ele queria gente com capacidade técnica, não tinham de ser figuras mediáticas. Se ele queria figuras mediáticas que tal o elenco de uma novela da TVI?
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3) O país maioritariamente à esquerda. Isso é uma constatação aritmética. José Manuel Fernandes está revoltado por o governo indiciar uma viragem à esquerda. Conclusão: JMF não é um democrata. É um Pacheco Pereira (que curiosamente escreve no seu jornal) que queria promover a sua querida líder.
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4) JMF está contra Vieira da Silva na Economia. Porque Vieira da Silva é um homem de esquerda e isso arrepia o ex-maoista. Ele era do esquerda dos idiotas úteis, na terminologia de cunhal, e nunca percebeu a esquerda democrática. Nem agora que se passou para a direita neoliberal. E afirma enfaticamente que espera que Vieira da Silva resista subsidiar empresas para evitar e reduzir o desemprego. Ficamos a saber que, num jornal onde as vendas estão em queda e teve de haver ajustes salarias, JMF quer lá saber do desemprego. O programa mais votado pelos portugueses, o do PS, tem vastas medidas de apoio ao emprego, e às PME, mas JMF quer um ministro que rasgue o seu programa e governe com aquele proto-programa de falência social que o PSD apresentou ao país. E vai mais longe: defende que o PS deve é favorecer as boas empresas. O facto de Manuel Pinho ter sido reconhecido no país por ter ajudado a salvar muitas PMEs - que eram boas, JMF mas que a crise ia destruindo (veja-se o caso de Paços de Ferreira) - é indiferente ao "proto-jornalista" que dirige o Público. Que lança ainda Farpas a Pinho um homem elogiado em jornais um pouco acima do que JMF dirige, como o Washington Post, pela sua aposta nas renováveis.
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5) Mas o que passa de todo JMF, é a escolha de Helena André, uma sindicalista indigna-se, ele!, para o Ministério do Trabalho. E dá o exemplo de que da mesma forma que nunca se põe um médico à frente do Ministério da Saúde (Ana Jorge, uma das ministras preferidas dos portugueses, por acaso é médica), não deve estar uma defensora dos direitos laborais à frente do ministério do trabalho. Faz assim eco da prosápia de Van Zeller! JMF tornou-se o novo representante do patronato português. E não se coibe de dizer, num momento em que Campos e Cunha alerta para o perigo de deflação (os tais economistas do outro manifesto já alertavam muito antes), que Ana André deve exigir contenções salariais ou mesmo congelamento de salários! JMF transformado em António Borges. Ele acha que num país onde o salário médio é de 700 Euros se podem fazer coisas destas. A sua consciência social está ao nível zero.
José Manuel Fernandes acha que o congelamento de salários resolve a descida de preços. Lição de economia de borla para JMF: os salários são a base da procura das famílias. Dinamizando a procura das famílias as empresas vão produzir mais o que distribui mais rendimento e gera mais procura. Por essa via, a pressão da procura evita a tal inflação negativa. Se não percebe isto, não escreva sobre o que não sabe. A pressão salarial em resultado do aumento da carteira de encomendas das empresas e da maior procura de trabalha reforça a travagem da espiral de deflação. Expliquem isto a JMF, que saltou para Hayek sem ler os economistas sérios.
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6) Tem ainda uma forte postura de Estado ao chamar "bulldozer" a um Ministro. Fará sem dúvida uma bela figura com o protocolo em Bruxelas. E mostra toda a sua ignorância cultural ao desconhecer as provas dadas por Gabriela Canavilhas. Ele, é mais Quim Barreiros.
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Disto tudo infere ele que o governo não tem ambição. E imagino Pacheco Pereira a dar-lhe pancadinhas nas costas, a dizer "Bom editorial Zé Manel".
In O Valor das Ideias, por Carlos Santos
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Nota cá da casa: O desespero é total nas hostes da direita. Como nas barracas das feiras, a maioria das rifas sai branca como a cal...
Parece que já perceberam que toda a anterior estratégia de descrédito do Governo, de Sócrates, do programa eleitoral do PS mais as maquinações ex-Belém, se transformou num verdadeiro pesadelo e que se arriscam a perder tudo, em muito pouco tempo.
Por ordem: A impossibilidade de derrubar este Governo, mas a permanente ameaça de novas eleições de que resultaria, tenho a certeza, uma maioria do PS; a visível degradação no interior do PSD, o isolamento e atonia dum PR acometido de várias incapacidades, a provável melhoria da situação económica mundial, a improvável reeleição deste PR ou a assustadora perda da maioria das autarquias, inevitável nas futuras eleições, é muita areia para a camioneta deles. Daí o disparate quase permanente, o lavar de roupa suja, ou o insulto do VGM ao eleitorado.
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