quinta-feira, novembro 03, 2005

Cahora Bassa, para alguns!

Cahora Bassa ( “Acabou o trabalho”, em dialecto local) tem constituído pesado fardo para os contribuintes portugueses e excelente manancial de empregos remunerados na inversa do trabalho que exigem.
Cahora Bassa – uma das maiores cinco barragens do mundo , o 2º maior lago artificial do planeta e também a 1ª reserva de água doce da África, é um dos fantasmas do colonialismo português.
E é um fantasma por duas ordens de razões. Primeiro porque nasce no contexto da fase final do colonialismo português que já desconfiando da sorte que o esperava se aliou -segunda razão – ao Apartheid sul-africano na sua fase mais agressiva e belicista.
Fez parte dos estratagemas usados pelos boers para romper o cerco energético em que já estavam envolvidos.
Daí, esta extraordinária obra ser, ao mesmo tempo motivo de vergonha e de brio técnico e científico.
Visitei-a duas ou três vezes e continuo a não encontrar palavras para descrever a sua dimensão, a localização “ in the midle of nowhere” e o assombroso contraste entre a tecnologia instalada com o meio ambiente, e com “desenvolvimento” das forças produtivas ao seu redor.
A sala dos geradores, no interior da rocha viva, ultrapassa de longe qualquer cenário de filme de ficção científica ou de aventura à 007 .
Bom, mas hoje as notícias /Público, dão-nos conta de mais um acordo para a “transferência” da sua gestão de Portugal para a República de Moçambique, nas “condições” descritas.
Vou continuar a considerar que, se este é um bom acordo, então há muita, muita coisa, muitos custos que desconhecíamos estar a pagar.
?Então em vez deste rodriguinhos diplomatas não seria melhor que a barragem passasse na totalidade para a R.M. e, ao lado, se fizesse um bom acordo agrícola para a utilização dos milhares de kms de margens daquele lago onde moçambicanos e portugueses tivessem oportunidade de trabalhar, investir e produzir alimentos e matérias primas para a indústria?
O potencial agrícola é várias vezes o do Nilo. A Angónia é ali ao lado. O vale das Donas em Tete nada produz actualmente.
Estou a falar de potenciais alimentares e energéticas para metade da África!
E os portugueses que querem investir ou emigrar para Moçambique estão impedidos de o fazer. Os desempregados moçambicanos também não têm qualquer apoio para emigrar para Portugal.
Conheço casos de técnicos que, ao abrigo de acordos de cooperação entre grandes empresas ( e grandes empresas em Moçambique são todas do Estado ou de poderosos políticos!), ali trabalham com vistos turísticos renováveis de 3 em 3 meses!
Não seria mais razoável tentar uma emigração cruzada, uma troca de competências que interessem de facto aos dois Estados, do que a discussão de mais 15% ou menos 15% de capital numa obra que apenas serve …a África do Sul?
Moçambique, o mais pobre País do Mundo nunca solverá esta dívida. Jamais !
Assumir que Portugal vai ser o accionista de referência com responsabilidades na Central Norte da barragem é uma hipocrisia dentro duma história para tolos: Portugal não fabrica porta-chaves e está a assumir responsabilidade de vir a instalar 5 ou 6 geradores cada um dos quais deve produzir o dobro da energia de toda a barragem do Castelo do Bode…através do direito de preferência dado às Empreses portuguesas (???)…
É claro que este negócio não é para Portugal nem nunca será..
Quem é que está a preparar altas comissões? Negócios de milhares de milhões?.
Este não é um acordo, é um conto de fadas! Que, como tal, se desfaz em estrelinhas e pós dourados. Plim!
Este País não toma tino! Plim, Plim!

1 comentário:

AC disse...

Estes senhores andam a brincar connosco. O (des)governo português perdoou ontem mais de mil milhões (1.000.000.000) de euros da dívida da Hidroeléctrica Cahora Bassa (HCB).

Diz o Correio da manhã: “Depois de à hora de almoço ter dado o acordo como “muito próximo”, o primeiro-ministro José Sócrates, congratulou-se com o “virar de página”, considerando ter sido “um bom acordo para os dois países”.

Bom, como foi após o almoço, compreende-se!

Expliquem-me-lá: Esta coisa das finanças públicas estarem de rasto é apenas conversa, não? As restrições orçamentais são folclore? Os sacrifícios impostos aos portugueses são apenas um pesadelo?

Afinal o país está a abarrotar, podemos esbanjar.

Quais são as contrapartidas para Portugal? Em quanto foi este acordo bom para Portugal? É que nós estamos a falar de negócio. A (HCB) vende a energia que produz, não estamos a falar de ajuda humanitária.

Um negócio destes lembra-me a entrega das ex-colónias. Delapidação desastrada e irresponsável das finanças públicas.

Estes gajos estão bêbados, são débeis mentais, simplesmente irresponsáveis ou trata-se de negociatas?

http://desgovernos.blogs.sapo.pt/