domingo, janeiro 31, 2010

A inefável discussão sobre o direito dos outros à vida

Temos assistido aqui, aqui, aqui e por aí, a uma discussão desfocada e extraordinária.
Sobre o uso, umas vezes em país muçulmano, outras, na Europa Ocidental, das burcas e dos nicabes...têm-se dito e escrito as maiores anormalidades sob a capa do liberalismo bem-pensante e dos supostos valores de esquerda.
Há muito que penso pela minha limitada cabeça e há princípios sobre a liberdade individual que, uma vez estabelecidos pela Revolução Francesa e pelos seus filósofos, deixaram de ser para mim questões a voltar a por em causa.
É como a Lei da atracção universal e Sir Isac Newton.
A questão deriva agora de um certo nevoeiro ideológico e de muita confusão sobre os princípios, as irrecusáveis verdades - pelos vistos esquecidas - da exploração do homem pelo homem.
Esta pretensa-esquerda-novíssima-e-bem-pensante acho que não percebeu ainda o conteúdo da palavra Homem. Salvo erro a proposição quer mesmo dizer TODA a gente!
Daí que andei a remoer e a assistir á discussão; mas o nível da confusão e da embrulhada dos princípios é de tal ordem que resolvi deixar o meu comentário que copio aqui:
"Esta fantástica discussão a que finalmente me junto por não resistir mais, é um excelente exemplo de como uma dita esquerda, pretensamente populista e radical, coloca os seus argumentos. O mesmo se aplica ao feminismo descabelado e que por aí polula.
Dou um exemplo para facilitar:
Talvez não se lembrem que, ao tempo, havia quem desejasse mandar fazer referendos para saber se os povos coloniais gostariam de ser independentes, se os escravos não estavam satisfeitos, ou se as mulheres podiam votar.
Ouvi várias dessas discussões e não foi há muito tempo. Havia até quem perguntasse se antes de alfabetizar as pessoas não seria melhor fazer um referendo...a saber se... queriam saber ler e escrever!
Peço muita desculpa a estes autores tão qualificados e amplamente reconhecidos como leader opinion makers, mas tenho que discordar total, frontal e completamente de todos os que acham essas medidadas de controlo ideológico-religioso como aceitáveis à luz do que quer que seja.
Trata-se, isso sim, de reduzir a mulher ao papel de agente do pecado. Logo, deve ser tapada.
Igualmente deve a mulher ser analfabeta, de preferência, e se for à escola é por interesse, e com a autorização do marido.
Reparem: Autorização para ir à escola!
Aqui mesmo em Portugal, é engraçado!, não os vejo a alimentar ou a promover a discussão sobre a segregação das meninas ciganas, transformadas em papel moeda, e impedidas de ir á escola, tão logo se tornem menstruadas...
Porque será que não iniciam um debate sobre a situação da mulher dentro da chamada "cultura cigana"?
A questão é a mesma. A diferença está no peso da grilheta, na bainha do vestido ou na cor do pano.
Leio por aí que os maridos querem as mulheres só para eles...
Ele há cada um!
E já agora, isso pode ser imposto pela sociedade e pelo púlpito?
Talvez com a imensa liberdade da ameaça da lapidação?
No mínimo, pela expulsão de casa, da cidade e do impedimento de acesso a herança qq que seja?
Aliás, porque será que é nesses "paraísos da liberdade feminina" que por acaso as mulheres não herdam?
Dependem do homem para tudo?
Estão impedidas de terem uma profissão?
Sobre os filhos, apenas têm deveres, nenhum direito!
O que é que estes bem-pensantes acham de, haver já, escolas públicas em Portugal onde, por imposição religiosa dos pais, há turmas apenas de meninas e ensinadas apenas por professoras também mulheres?
Se calhar sou eu que vejo fantasmas, e que considero todas as manifestações de marginalização e de (ab)uso da mulher, o que é : Um atraso, e apenas a face mais (in)visível duma terrível exploração económica, familiar e social.
O resto, desculpem, é treta para enganar os incáutos.
As mulheres, seres humanos com sonhos e com direitos, nascem livres e com todos os direitos seja qual for a religião ou o desenvolvimento das forças produtivas e das correspondentes representações religiosas em vigor."
Sei que não vou fazer muitas amizades.
É a vida!
Mas, como dizia Miguel Torga: "Para ir para o Céu nestas companhias, mais vale a gente perder-se!"

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