Felizmente ainda há memória do pensamento claro e transparente de Samora Machel.
Do pensamento e da sua prática.
Os ódios que então lhe foram dirigidos, estão agora às escâncaras e, no fundo, no fundo, eram justificados.
Ele era o Povo e, o seu elaborado instinto de classe, só podia ser motivo para as anedotas políticas e até do seu assassínio.
É que não é impunemente que se metem na ordem os oportunistas e se cortam as asas aos abutres... É ler:
"Hoje é o Dia da Vitória. Quando da tomada de posse do governo de transição, em 1974, o então presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Samora Moisés Machel, fez um discurso do qual recordo as seguintes passagens:
“(...) Queremos chamar atenção ainda sobre um aspecto fundamental: a necessidade de os dirigentes viverem de acordo com a política da Frelimo, a exigência de no seu comportamento representarem os sacrifícios consentidos pelas massas. O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente com o povo, não façam da tarefa recebida um privilégio e um meio de acumular bens ou distribuir favores. A corrupção material, moral e ideológica, o suborno, a busca do conforto, as cunhas, o nepotismo, isto é, os favores na base de amizade, e em particular dar preferência nos empregos aos seus familiares, amigos ou a gente da sua região fazem parte do sistema de vida que estamos a destruir. O tribalismo, o regionalismo, o racismo, as alianças sem princípios constituem atentados graves contra a nossa linha e dividem as massas. Porque o poder pertence ao povo, quem o exerce é servidor do povo. Quem desviar assim a nossa linha não encontrara qualquer tolerância da nossa parte. Seremos intransigentes nesta questão, como o fomos durante os duros anos de guerra. Não hesitaremos nunca em expor perante as massas as acções cometidas contra elas. Os desvios da linha suscitam as contradições, as brechas por onde penetra o inimigo, o imperialismo e as forças reaccionárias. Para que se mantenha a austeridade necessária a nossa vida de militante e assim se guarde no sentido do povo e dos seus sacrifícios, todos os militantes da Frelimo que receberam tarefas de governação do Estado tal como no passado deve renunciar às preocupações materiais, nomeadamente aos vencimentos. É evidente que por maioria de razão não se pode tolerar que um representante nosso possua meios de produção ou explore o trabalho de outrem. Combatemos durante dez anos sem qualquer preocupação de ordem financeira individual, empenhados apenas em consagrar toda a nossa energia ao serviço do povo. Está é a característica do militante, do quadro, dos dirigentes da Frelimo. Como o fizemos sempre, de acordo com as nossas possibilidades, procuramos assegurar ao militante que cumpra uma tarefa, o mínimo de condições materiais indispensáveis ao seu trabalho, ao seu sustento e da sua família. Mas também não nos devemos esquecer que muitas vezes combatemos e vencemos descalços, esfarrapados e com fome. Sublinhamos ainda que, assim como fizemos guerra sem horário de trabalho, sem dias de descanso, nos devemos empenhar com o mesmo espírito na batalha da reconstrução nacional”.
(Texto recolhido do excelente blog http://oficinadesociologia.blogspot.com/ que recomendo e que fica desde já aí nos meus favoritos de bombordo!)
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