Ainda não passaram 24 h sobre a notícia do relatório da OCDE onde Portugal, os portugueses, as escolas nacionais e os professores eram mostrados como são: Portugal, deprimido; os portugueses, pouco instruídos e iletrados; as escolas nacionais, pouco voltadas para a sua finalidade; os professores, esses, passando o menos tempo possível nas escolas.
Ninguém deu conta da relação entre estes factos?
Ontem e hoje os jornais estão cheios de notícias e de comentários, aliás quase todos com origem nas associações de empresas e de empresários, e que alertam para o facto da região norte de Portugal ser aquela onde os efeitos da crise económica sa fazem sentir com mais intensidade. Ludgero Marques do alto da sua imparcialidade gritava até "ser preciso" vir a Lisboa retirar o dinheiro que aqui estaria e que seria do Norte.
Todos os relatórios sobre economia nacional referem que a região norte se caracteriza pela indústria da cerzideira e do investimento selvagem. Empresas fantasma que abriam sem se dar por elas e que fechavam de repente. Salários mínimos, horários excessivos, trabalho infantil, lembram-se?, ordenados em atraso, impostos por pagar, segurança social descontada aos trabalhadores mas por liquidar ao Estado e fraca, muito fraca escolaridade de trabalhadores e empresários.
Desconhecimento absoluto da relação entre o produto acabado e os mercados de destino.
Estão a ver a relação entre o problema das escolas e o relatório da OCDE?
Entre aquelas duas realidades, a debilidade do tecido produtivo e a fraquíssima escolaridade?
Por outro lado, é do conhecimento público e notório que é na zona norte, no chamado eixo Porto- Braga que há a maior concentração de Rolls-Royces e de Ferraris de toda a Europa? E que este ano a Porche vendeu, no 1º semestre, mais de um carro por dia! Dizem até que o representante se viu obrigado a comprar uma máquina de contar notas - como as dos bancos- visto os seus clientes pagarem a dinheiro os carritos de 30 e de 40.000 contos!
Agora já viram a relação entre a baixa escolaridade, a indústria de quintal e a acumulação desenfreada?
Podia agora acrescentar que continua a ser dali, do Norte, de onde sai todos os anos, há décadas, o grande fluxo migratório nacional. Para todos os trabalhos desqualificados na Europa e USA.
Não carece!:
Hoje, 16 de Setembro de 2005, o primeiro-ministro, eleito por maioria absoluta dos votos dos portugueses e a ministra da educação do seu governo, foram insultados e vaiados por professores quando visitavam uma escola na Figueira da Foz.
Todos sabemos que o Governo tem anunciado medidas para melhorar o funcionamento das escolas: colocou a tempo os professores, vai dar formação aos professores de matemática, introduziu o ensino do Inglês no 1ºCiclo, refeições às crianças, horários das escolas compatíveis com o trabalho dos pais, etc.
Preocupa-me a relação entre todos os factos que apresento. Preocupa-me ainda mais quanto está enraizada neste povo a necessidade de um poder autoritário e arrogante para os fazer trabalhar e respeitarem-se!
3 comentários:
Não ha que ter medo dos funcionarios publicos que nos chupam o sangue
A sua lúcida análise "encalha" na parte que diz respeito às medidas do governo no que respeita à educação. Veja, por exemplo, o "Almocreve das Petas", onde está um belíssimo texto que acerta na mouche dos problemas do nosso sistema educativo.
Apreciador dos textos de "Homem ao Mar!", não supunha que "engolisse" de forma acrítica as medidas tomadas por este governo em matéria de educação, que têm muito de imediatismo propagandístico e pouca visão estratégica. E quem sofre é o futuro do país, são as novas gerações.
Já agora - horários das escolas compatíveis com o trabalho dos pais. Pois bem, se os pais saírem de casa às 06.00 e só regressarem às 21.00, como acontece com vários que conheço, onde é que está o tempo para o convívio, para a família? E os professores também são, muitos deles, pais, não são o "inimigo do outro lado da barricada". Pensamentos reducionistas deste tipo é que são dispensáveis.
...deve ser porque vão fazer trabalhar mais uma imensa maioria que trabalhava de menos...os outros...digamos...estão a pensar que finalmente podem ter menos horas de trabalho...pois chegou a altura dos calinas trabalharem...
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