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Explico a minha referência acima à teologia católica (cristã, parece) do matrimônio.Para começar, o matrimônio, ao contrário do batismo, entre outros, é um sacramento auto-administrável. Isto significa que, ao contrário do que muita gente pensa (e os padres não movem uma palha para acabar com essa crença popular), não é o padre que casa os nubentes, mas são eles próprios que se casam a si mesmos. De que forma? Assumindo de público o seu amor. Daí a cerimônia na igreja, diante dos convidados, isto é, da comunidade. Publicidade, para que não haja o risco de alguém estar sendo prejudicado, e para que se explicite a autenticidade do compromisso. Autenticidade, pré-requisito de qualquer ato moral e atenção à moral de Deus, isto é, à grande moral, a do Jardim, a moral da vida, a do amor, não a moral dos costumes, a moral cultural.Pois bem, com isto, com a declaração de amor diante da comunidade, metade do ritual de auto-administração do sacramento é efetivada. A outra metade não ocorre ali, na igreja, diante do público, mas no segredo da alcova nupcial, pois consiste na primeira conjunção carnal. Vale dizer, a primeira relação sexual é parte essencial da consumação do casamento, de tal forma que, se ela não se efetivar, por um motivo qualquer, simplesmente não ocorreu o consórcio.Os manuais de casuística moral, destinados aos estudantes da teologia católica, registram a hipótese de um casamento que vá se realizar numa localidade rural, uma fazenda por exemplo. Os convidados estão presentes, o banquete já está servido, a festança à espera apenas de que chegue o padre para a cerimônia na capela, já toda enfeitada. Mas o padre não chega. Uma tempestade acabou de cair, os riachos se encheram, a estrada foi obstruída, não há mais como chegar alguém da cidade mais próxima onde assiste o vigário. E aí?A solução do problema: os noivos se dirigem à capela e, diante dos convidados presentes, se recebem como marido e mulher. Depois, a festa, a comilança, a festança, e a retirada dos noivos para o seu quarto, onde o restante da autoministração sacramental irá se efetuar.Em resumo, em bons termos de teologia sacramental católica, é inteiramente verdade que "quem ama com fé, casado é". O resto é legislação burocrática da instituição, coisa da cultura, coisa dos homens. Nada a ver com Deus.Observe o leitor que o que este escriba, agnóstico convicto, acabou de fazer aqui foi simplesmente se colocar na perspectiva católica, como se um deles fosse, para que melhor se possa avaliar o que já foi e o que vai ainda ser dito sobre o episódio.
posted by Tristão at 19:31
1 comentário:
...pela leitura que fiz de alguns manuais de Direito Canónico...também fiquei com a mesma sensação...agora reforço-a...obrigado pelo esclarecimento...um abraço...
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