Do que falamos quando falamos? Já fiz a pergunta várias vezes mas não sou eu que me repito. O país é que é contumaz. Volta não volta, acontece a mistura fatal, um pingo de magistrados num copázio de jornalistas, e o país fica grogue. Não diz nem pensa coisa com coisa. Um dia, um juiz foi buscar um deputado ao Parlamento porque tinha indícios terríveis: o deputado tinha dito "querida" ao seu interlocutor telefónico de voz masculina, logo aquilo cheirava a maricagem e, como se investigava pedofilia, logo o deputado era suspeito. E todos os indícios eram desse quilate. Ora, o deputado falara com a mulher, de voz grossa, de um amigo. Como o juiz nem se deu ao trabalho de relacionar o telefone com o seu proprietário, que era uma proprietária, como os jornalistas fizeram eco ao vazio, como os portugueses viraram baratas tontas, chegámos, quase dez anos depois, ao caso Casa Pia sabendo o mesmo que no início. Nada, embora presumindo muito. Ontem, comprei o Sol. Li as quatro páginas sobre as escutas que me prometiam relatar o polvo governamental sobre jornais e televisão. Mas não estava lá nada sobre o assunto. Não quero dizer que Sócrates não quis dominar a Imprensa. Não digo que o Governo não coma microfones ao pequeno-almoço. Digo é isto: naquela edição do Sol não estava lá nada sobre o assunto. Então, do que falamos?
sábado, fevereiro 13, 2010
O balão está a esvaziar...
Do que falamos quando falamos? Já fiz a pergunta várias vezes mas não sou eu que me repito. O país é que é contumaz. Volta não volta, acontece a mistura fatal, um pingo de magistrados num copázio de jornalistas, e o país fica grogue. Não diz nem pensa coisa com coisa. Um dia, um juiz foi buscar um deputado ao Parlamento porque tinha indícios terríveis: o deputado tinha dito "querida" ao seu interlocutor telefónico de voz masculina, logo aquilo cheirava a maricagem e, como se investigava pedofilia, logo o deputado era suspeito. E todos os indícios eram desse quilate. Ora, o deputado falara com a mulher, de voz grossa, de um amigo. Como o juiz nem se deu ao trabalho de relacionar o telefone com o seu proprietário, que era uma proprietária, como os jornalistas fizeram eco ao vazio, como os portugueses viraram baratas tontas, chegámos, quase dez anos depois, ao caso Casa Pia sabendo o mesmo que no início. Nada, embora presumindo muito. Ontem, comprei o Sol. Li as quatro páginas sobre as escutas que me prometiam relatar o polvo governamental sobre jornais e televisão. Mas não estava lá nada sobre o assunto. Não quero dizer que Sócrates não quis dominar a Imprensa. Não digo que o Governo não coma microfones ao pequeno-almoço. Digo é isto: naquela edição do Sol não estava lá nada sobre o assunto. Então, do que falamos?
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