Recebia o Granma escondido. Clandestinamente.
Olhei com a maior esperança em algo de novo, a meio do nosso fascismo de então!
Foi fácil sermos enganados e, anos mais tarde, fui pessoalmente vítima desse totalitarismo.
Talvez por isso, e por suspeitar há mais de 25 anos, fui varrendo o pó das minhas esperanças para baixo do tapete.
Por isso nunca fui de férias a Cuba.
Aconselho a leitura do livro do Pepetela "O planalto e a Estepe" , absolutamente imperdível e terrível. Acho que em Portugal poucos o leram!
Reconheço amargamente que afinal os regimes também se suicidam e que nos arrastam na deriva!:
José Saramago a propósito das execuções de dissidentes cubanos perpetradas pelo regime de Havana em 2003, escreveu no “El País” (14.04. 2003):
“Cheguei até aqui. De agora em diante, Cuba seguirá seu caminho e eu fico. Divergir é um direito que se encontra e se encontrará inscrito com tinta invisível em todas as declarações de direitos humanos passadas, presentes e futuras. Divergir é um acto irrenunciável de consciência…”
A recente e trágica morte de um outro dissidente cubano, Orlando Zapata, fez-me aflorar à memória este duro, mas necessário, escrito do nosso Prémio Nobel da Literatura.
Este crime que permitiu a um prisioneiro em regime de greve de fome entrar em inanição e falecer nas mãos das autoridades cubanas é, para mim, um intolerável homicídio que tem como pano de fundo a negação do direito à dissidência e um profundo desrespeito pelo pessoa humana. É um crime contra a Humanidade.
O governo de Havana dificilmente conseguirá lidar com este bárbaro atentado aos Direitos Humanos. E, como todos sabemos, Havana – vítima de um implacável bloqueio imposto pelos EUA – necessita, para sobreviver, da solidariedade internacional. Portanto, este assassínio, para além de um inqualificável acto anti-humanitário, é um tremendo erro político. Expõe ao Mundo um regime sediado nas Caraíbas onde as Liberdades Fundamentais são letra morta. De agora em diante, será, cada vez mais custoso, penoso e despropositado evocar (ou invocar) a solidariedade dos povos.
O regime castrista tem sido amparado pelo Mundo, nomeadamente, pelos países da América do Sul, devido à sua exclusão do convívio internacional, ordenada pelos EUA. Para já, o regime de Havana, conta (ainda) com o silêncio cúmplice do presidente Lula da Silva, neste momento em Havana, em viagem de negócios, na sequência dos acordos preparados pelo Ministro da Indústria e Comércio brasileiro Miguel Jorge.
Uma desilusão nunca vem só. É decepcionante que um homem como Lula da Silva, cujo percurso de vida (social e política) está muito mais próximo do operário canalizador Orlando Zapata Tamayo do que dos “irmãos Castro”, seja capaz de deixar espezinhar as liberdades fundamentais, pelos negócios.
A revolução cubana faz parte do meu imaginário de jovem. Sempre pugnei para preservar as minhas memórias, mesmo quando se avolumavam os “sinais” que as contradiziam.
Hoje, perante mais esta enorme e bárbara crueldade, tenho de reconhecer que, fico por aqui!.
Ou melhor, fico por aqui, disposto a reivindicar o respeito pelas liberdades em todo o Mundo e, obviamente, também, em Cuba.
Quando as coisas se tornam insuportáveis, não há sonhos que resistam…
posted by e-pá! @ 12:37 PM
Sem comentários:
Enviar um comentário