quarta-feira, março 24, 2010

Os Ogres e a sabedoria popular em busca da Ordem possível


O Ogre mandou o Poeta

Cortar as asas ao Sonho,

Mas o Poeta não cortou as asas ao Sonho

Não se arrependeu, nem voltou para casa

*

O Ogre mandou então o cão

Para morder o Poeta

Mas o cão não quis morder o Poeta

E o Poeta não cortou as asas ao Sonho

Não se arrependeu, nem voltou para casa

*

O Ogre mandou então o cajado

Para bater no cão

Mas o cajado não quis bater no cão

O cão não quis morder o Poeta

O Poeta não cortou as asas ao Sonho

Não se arrependeu, nem voltou para casa

*

O Ogre enviou então o fogo

Para queimar o cajado

Mas o fogo não quis queimar o cajado

O cajado não quis bater no cão

O cão não quis morder o Poeta

O Poeta não cortou as asas ao Sonho

Não se arrependeu, nem voltou para casa

*

O Ogre enviou então a água

Para apagar o fogo

Mas a água recusou a apagar o fogo

O fogo não quis queimar o cajado

O cajado não quis bater no cão

O cão não quis morder o Poeta

O Poeta não cortou as asas ao Sonho

Não se arrependeu, nem voltou para casa

*

O Ogre mandou então o boi

Para que este bebesse a água

Mas o boi não quis beber a água

A água recusou apagar o fogo

O fogo não quis queimar o cajado

O cajado não quis bater no cão

O cão não quis morder o Poeta

O Poeta não cortou as asas ao Sonho

Não se arrependeu, nem voltou para casa

*

O Ogre enviou então o carniceiro

Para matar o boi

Mas o carniceiro não quis matar o boi

O boi não quis beber a água

A água recusou apagar o fogo

O fogo não quis queimar o cajado

O cajado não quis bater no cão

O cão não quis morder o Poeta

O Poeta não cortou as asas ao Sonho

Não se arrependeu, nem voltou para casa

*

O Ogre, reunido em Comissão com os outros Ogres

Preparou a forca para o carniceiro

(O Ogre mascarou-se de carrasco)

Assustou o boi que bebeu a água

A água que já tinha apagado o fogo

O fogo que havia queimado o cajado

O cajado que açoitara o cão

O cão que atacara o Poeta

E o Poeta cortou as asas ao Sonho

No final, o Ogre enforcou o carniceiro

Os que sobraram arrependeram-se e deixaram-se de sonhos...


(Adaptado aqui na barca. Enquanto se navega também matamos o tempo...)



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