Não sendo eu um cananeu que habitasse a Palestina antes da conquista pelos hebreus;
Sabendo meia-dúzia de coisas, de artes, portanto;
Não pertencendo ao povo dos Filisteus;
Sendo eu de corpulência vulgar mas com algumas leituras e habilidades manuais;
Resta-me a qualidade de ser um burguês de espírito vulgar e estreito.
Às definições do dicionário, acrescento que há muito me habituei a ser superiormente ignorado pela bem pensante blogosfera, o que, tendo um lado bastante agradável, é de fácil justificação:
Sou um arrivista.
Não completei o meu curso superior, iniciado no estrangeiro e sem equivalência fácil...
Nunca me inscrevi nem militei em qualquer partido em Portugal.
Escolho as minhas companhias e opiniões.
Mantenho um blog onde escrevo, vai fazer agora 5 anos, o que bem em apatece e parece, faço muito mais inimigos que leitores.
Definitivamente sou um outsider neste W a l k of F a m e !
É a vida! E esta já me ensinou a não trocar aplausos fáceis, por ideologias com as mais profundas ligações ao atraso nacional, à esquerda irresponsável ou a atiradores furtivos.
O enclave burguês que me resta, também se adapta mal ao meu curriculo, que isso tenho!
Mas também não o vou desvendar. Pareceria que estava a colocar-me num patamar intocável. E isso é o que eu critico por aí! Os intocáveis que tudo sabem, que tudo nos explicam, entrecruzando as suas opiniões em círculo fechado. Apenas entreaberto para nos aspergirem de epítetos e de esconjuros. Entendo. Oh, se entendo!
O curioso é que alguns, embrulhados em argumentos aparentemente de esquerda, pouco ou nada se distingam das práticas da direita.
E essa tem sido sempre a minha preocupação. A escolha do campo. A definição do inimigo.
Já muitas vezes errei nesse propósitos, mas continuo a tentar.
Tudo isto a propósito da (minha) oposição aos salários obscenos, às gratificações pornográficas, à acumulação de 10, 20 empregos e outras tantas pensões, reformas e retribuições de serviços.
Tudo isto num País onde se pratica tranquilamente o mais reduzido salário mínimo da UE, a 17, a 18 ou a 22, à escolha! ;
A meio da mais grave crise financeira dos últimos 80 anos.
Neste País, com mais de 10% de desemprego, que se arma furiosamente à razão de milhares de milhões mas, onde a maioria da população não dispõe de mais do que o 6º ano de escolaridade, onde quase não se vendem livros, onde não se lêem jornais mas onde se podem visitar guetos de negros ou de ciganos, quase todos desempregados, constitui uma afronta ouvir justificar os tais hiper ordenados com argumentos sobre a constituição do capital social das empresas, sobre a inevitabildade de se concorrer em mercados onde habitam os tubarões, com metas superadas ou, e esta é mesmo para rir, com a minha filistia...
Portanto agora sou um filisteu!
Eles não. Eles são seres superiores que escolhem os blogs e as companhias, que derrotam os argumentos contrários com recurso ao alcatrão e às penas. À pura a simples excumunhão.
Nestes momentos, cada vez mais comuns, recordo, na minha baça ignorância, a sabedoria do Torga:
"Para ir para o Céu nestas companhias, mais vale a gente perder-se"
2 comentários:
Há mais Filisteus por aí.
Qual céu qual quê.
Cada um pensa de sua maneira e escreve o que lhes der na real gana.
Aqui não temos que obedecer a regras ou normas de qualquer patrão.
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