A menos que seja de facto para estudantes verdadeiramente carenciados.
É que estou farto de ver os parques cheios de carros novos, à porta de todas as Faculdades...
E de ver serem gastos milhões de euros em concertos de rock e de música importada... ,
ou em bebedeiras colectivas organizadas até por partidos políticos que se reclamam de esquerda...
Não são as propinas que são caras. A gasolina é que é barata!:
"Num país atrasado como Portugal, a cultura do automóvel subverteu o interesse colectivo. Em 1986, com a entrada na CEE, actual União, centenas de milhares de famílias deram o salto da carroça para o Fiat 127. Não teria mal se, em simultâneo, os sucessivos governos, autarcas de todas as cores e poderes fáticos não tivessem aproveitado o upgrade de motorização para encerrar linhas de caminho de ferro e reduzir drasticamente a rede de carreiras rodoviárias.
Para dar um exemplo que conheço bem, vejamos o caso da linha de Cascais. Até praticamente ao fim dos anos 1990, toda a gente, da mais obscura ajudante de cabeleireiro ao broker com MBA em Stanford, usava o comboio. Ainda em 1997, das 8 da manhã às 8 da noite, partia um comboio (em ambos os sentidos) a cada seis minutos. Hoje, no mesmo período, apesar do acréscimo de população, é de vinte em vinte. Porquê? Porque a procura não justifica a oferta. Em larga medida, os comboios da Linha são agora utilizados por imigrantes, operários não qualificados, empregadas domésticas, estudantes do secundário, ocasionais turistas e um punhado de excêntricos que inclui funcionários públicos e jornalistas. A classe média, mesmo a muito baixa, só anda de popó. Barafusta com o preço dos combustíveis e as portagens, que sempre se pagaram na área da Grande Lisboa, mas não abdica de viatura própria.
Incidentes recentes reportados pelos media são consequência da mudança de paradigma. O que era comum na linha de Sintra está a suceder nos Estoris. Ontem mesmo, em Carcavelos, dezenas de passageiros impediram a entrada no comboio a um grupo de 40 jovens. A circulação esteve interrompida durante três quartos de hora, sendo reposta após a chegada da polícia. Passou-se isto às seis da tarde. Pensar que até 1997 me fartei de apanhar, sem qualquer problema, o comboio das 02:30h da madrugada.
Não faz sentido o desinvestimento na malha de transportes públicos interurbanos. Um habitante de Algés não tem uma camioneta que o leve a Cascais. E assim sucessivamente, um pouco por todo o país. A rede de Expressos cobre as capitais de distrito e mais meia dúzia de destinos, mas é insuficiente para assegurar a mobilidade das populações. Para dar outro exemplo que conheço bem, a faixa litoral de Viana do Castelo a Valença (circuito que inclui localidades como Afife, Vila Praia de Âncora, Moledo, Caminha, Cerveira, etc.) não tem transportes urbanos regulares. Uma camioneta desengonçada, quando o rei faz anos, mas nada que garanta a circulação de quem tem de trabalhar. Porquê? Porque a minhota que vai de Ponte de Lima a Gondomil aparar a relva do jardim do senhor doutor... se desloca de Clio! Foi a cultura do automóvel que gerou o imbróglio."
In Da Literatura
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