Caro Joaquim Simões,
"Caro mferrer:
Não me referi até agora, neste blog, ao que é conveniente ou não na relação entre Estados, nem ao que a presença de uma comunidade portuguesa de grande dimensão num outro Estado aconselha."
Claro que eu não disse nada disso. O seu post é singelo e não o vincula a qq compromisso pro-governo, nem ao seu contrário. Achei, mas admito estar errado, que o Joaquim fez apenas uma piada. Aliás legítima. Se posso, direi que adoro piadas políticas com conteúdo. Referi, isso sim, uns "iluminados" que não avaliaram todas as oportunidades, fossem comerciais, fossem económicas. Estava longe de o incluir nos astros sem luz própria!
"São questões delicadas, que não podem ser abordadas de modo simplista ou simplório, mas onde de qualquer modo, penso eu, o factor dignidade deverá ter um local insubstituível. Por outro lado, a situação da economia, todos o sabemos, exige, quando seja esse o caso, a deglutição de alguns sapos. De qualquer modo, deverá haver alguma definição e coerência de postura e acção no conjunto do que acabei de referir, sem o que a própria credibilidade externa sairá fragilizada e as posições futuras dos outros países em relação ao nosso reflectirão isso mesmo."
A estas preocupações às quais não adiro, apenas porque, a)a enorme presença de compatriotas nossos explica e justifica uma política de proximidade, b)a situação petro-global e em especial a da nossa frágil economia tem que encontrar saídas, uma vez terminado o ciclo colonial e em plena globalização. A política, alguém o disse antes, é a arte do possível. E Portugal tem que o ser !
"Mas não é disso que fala a notícia que refiro no post anterior, cuja dimensão não ultrapassaria a piscadela de olho divertida dos portugueses quanto aos vícios privados do primeiro-ministro por oposição às suas públicas virtudes, ( parece que interpretei bem a sua piada, se tal posso dizer) se não fosse tudo o que tem acompanhado aquilo que classifico como o descalabro governativo de que o nosso país tem sido vítima desde há três anos. Descalabro que, a meu ver, iremos pagar caríssimo nas próximas quatro ou cinco décadas (pelo menos) e que só tem sido possível precisamente porque o povo português se deixa, desde há séculos, "governar" como o "povo de escravos" a que se referia Lord Byron cerca de duzentos anos atrás. E que faz com que, para se ser português, como dizia Jorge de Sena, seja preciso, desde há cinco séculos, ser, de profissão, exilado."
Aqui é que não posso agora dar de barato seja a falta de ambição, seja o evidente menosprezo por tantos e tantos portugueses que, não emigrados, muito e tudo têm feito para ao seu nível criarem um País melhor! A embófia inglesa, mesmo vindo de letrados, ou de outros desistentes do Portugal, não devia levá-lo a pintar esse quadro cuja negritude faria corar o Senghor... Mas, descalabro foi tudo o que aconteceu ao nível da impreparação das infraestruturas do País desde há mais de um século! Descalabro era um abandono escolar crescente e com mais de 20% de retenções no 1º ciclo do Básico. Descalabro é os oftalmologistas fazerem 50 operações num ano de trabalho no SNS e o médico espanhol do Hosp. do Barreiro ter feito 300 numa semana; Descalabro é a situação da Justiça, a urbanização descontrolada de todo o litoral magnífico do País, o abandono completo dos campos, Descalabro sim, os milhares de licenciados com cursos que para nada servem tirados em instituições que ministram mais de 1100 cursos superiores diferentes. Descalabro é a possibilidade de um professor se reformar com 2500Euros/mês com apenas 49 anos de idade. Mais do que descalabro foi a situação de descontrole de contas públicas, as da Madeira ou de muitos Municípios, o desconhecimento do nº de funcionários públicos e de despesas sem fim, fosse no SNS, fosse como pagamento do serviço da dívida pública. E que dizer das múltiplas mordomias dos titulares da coisa pública? Deputados e Governadores do BPortugal e de todas as EPs?
Foi mesmo necessário cortar a valer, provavelmente praticando algumas injustiças e mexendo com muitos instalados à mesa do OGE. Teve mesmo que ser.
"Pior do que mau, porém, o actual governo é, quanto a mim, um governo de um provincianismo de vistas curtas, "bimbo e com muito gosto", prenhe da arrogância própria desse mesmo tipo de bimbalhismo, próprio não do arquitecto, mas do mestre d'obras. Ora sabe-se que "quem vive pela espada, morre pela espada" - e o escravo, se não morre, cria rancores justificáveis. E que, naturalmente, não perdoará o menor deslize a quem o violenta.
Dirá que o meu ponto de vista quanto ao governo e à sua acção é discutível. Como não me julgo iluminado por sóis de qualquer proveniência, sei que o é. Mas asseguro-lhe que, ao invés de me sentir satisfeito e impante quando o critico, me sinto antes aterrado pelas consequências da inconsciência e da vaidade com que o vejo agir, aterrado até pelas palavras com que o faço, tal o significado que elas contêm e o que implicam. Bem como pela cegueira, pela fuga para frente que observo nos militantes socialistas, a começar por aqueles, meus amigos, a quem afirmei, na altura, que a eleição de José Sócrates para secretário-geral do partido seria algo de muito grave quer para o PS quer para o país pela inconsistência, pela impreparação... e pela má-educação disfarçada de determinação imatura. E a prova de que não sou nenhum iluminado está exactamente em que tudo é hoje pior, mas muito pior do que alguma vez previ que poderia vir a ser."
Aqui vc faz de pitoniza e nessa matéria leva-me a palma, o fuste e as raizes! Não passam de comentários infundados, preconceitos, previsões catastróficas e velharias do Restelo, mais conformes às bancas da Feira da Ladra do que aqui, na novíssima net. Aliás parece, ou oiço dizer que a maioria dos portugueses continua a preferir este PS a qq outra coisa. E vc faz-me a gentileza de não considerar que os que Jorge de Sena considera como analfabetos sem profissão, ou de profissão ( como queira) são mesmo, mesmo burros! É que a falta de profissão e a fominha sempre foram más conselheiras. Claro que não lhe vou contar - julgo que seria abuso meu - que emigrantes vi, há para aí há uns 20 anos, no Canadá e nos EUA, idos dos Açores ! Pareciam mais, idos de um museu de antropologia...
"Lamento se não correspondo ao tipo de imagem que me parece ter de mim, assim de alguém que se compraz a olhar de cima, criticando com leveza displicente o esforço e os erros alheios. Só desta maneira compreendo o tipo de comentário que fez. Mas, garanto-lhe, é apenas o desgosto, quando não o nojo e a vergonha, o que me move quando me refiro a coisas deste tipo. E o vazio, o terrível e monstruoso vazio que alastra viscosamente por dentro de tudo e todos em Portugal.
Seu
Joaquim Simões"
Já ficou claro que, primeiro não tinha essa imagem de si, depois caso a tivesse tido, a sua educada resposta que considero também sincera, a isso mo não permite, mas quanto ao seu derrotismo sobre o futuro do País bem como absoluta falta de respeito pelo trabalho denodado deste governo em todas as áreas, e que ao "verificar esse abandono" lhe poderia fazer nojo, apelo ao seu sentido de justiça para, ao não alinhar com a estrema esquerda, não caia na tentação , essa sim simplista , de esperar que, partindo da situação que existia há três anos, o governo do PS ainda não tenha resolvido todos os problemas. Isso se me dá licença é mais um trabalho para os próximos 15 ou 20 anos...Não há milagres disponíveis!
Sinceramente
MFerrer
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