sexta-feira, maio 02, 2008

O gráu zero da Política


A Assembleia da República votou hoje, e aprovou, um voto de reconhecido agradecimento a um dos homens que em Portugal mais se notabilizou no combate à democracia e no apoio a todas as iniciativas reaccionárias. É verdade! Ao louvar o Cónego Melo, os deputados que comem o pão da democracia que lhes mete na boca o povo deste País, não tiveram um resquício de vergonha ou de pudor, apoiando desta forma quem sempre desdenhou da democracia e dos valores da tolerância e civilidade!

Além da minha vergonha e do meu repúdio deixo aqui um pequeno texto recolhido de santeiro.blogspot.com/2008 :

A morte lava mais branco

Autor: Carlos Esperança

O funeral do cónego Eduardo Melo, da Sé de Braga, deu origem a uma importante concentração fúnebre.Uns foram para ter a certeza de que ficam livres de uma testemunha incómoda, outros para prestar homenagem a um homem que não hesitaria em defender a Igreja à bomba.Não foi a devoção que o celebrizou, foi o poder que o tornou temido e respeitado. A estátua que lhe fizeram não foi uma homenagem às ave-marias que rezou, às missas que disse ou à frequência com que sacava do breviário. Foi a paga dos favores que fez, das cumplicidades que teceu, do poder que detinha. Não era homem para andar de hissope em punho a aspergir beatas que arfavam lubricamente à sua volta antes da Revolução de Abril, era um homem de acção. Do futebol à política. Do salazarismo ao MDLP.O cónego Eduardo Melo pode não ter sido o responsável pelo assassínio do padre Max, cuja morte ficou impune embora se saiba a origem dos explosivos.Na morte teve a acompanhá-lo o inevitável presidente da Câmara, Mesquita Machado, o Governador Civil e um secretário de Estado, além de gente anónima que aproveitou os autocarros gratuitos para ir a Braga.O bem-aventurado cónego, que nunca renegou a sedução por Salazar e o aborrecimento pela democracia, foi a enterrar quatro dias antes do 25 de Abril que tanto detestava. Se Deus existisse tê-lo-ia deixado viver até ao 28 de Maio. Era uma data mais grata à sua alma de fascista, uma consolação para quem nunca se adaptou à democracia

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