sábado, novembro 22, 2008

Diálogo num dia de Primavera

A secretária:
- Está ali o Dr. Loureiro que precisa de falar com o Sr. Dr.
- O Dr. Loureiro do BPN? Pois que ente, que entre.
A secretária:
- Faça favor Sr. Dr., o DR. António Marta vai já recebê-lo. Quer um cafezinho? Água? Prefere com gelo?
- Não se incomode que isto vai ser rápido.
- Disponha Sr. Dr., fechando a porta.
Dias Loureiro:
- Bom dia António Marta, como está? Bem? Já agora obrigado por me receber assim sem ter marcado nada. Isto foi um impulso, meu caro.
- De nada Manuel Loureiro, estou sempre ao dispôr.Vamos sentar ali no sofá que estas cadeiras de braços cá do Banco já foram mais cómodas...Levanta-se e com a mão sobre o ombro do amigo, dirigem-se para os sofás cacabados de estrear. Pele italiana, pensou o visitante.
E traçando a perna, o Dr Marta:
- O que é que o traz por cá? Posso insistir num café?
- Café? É boa ideia, agora só tomo da parte da manhã e como nunca consigo chegar muito cedo ao Banco...
Para o inter-comunicador.
- Oh, D. Guida traga-nos dois cafés, e levantado os olhos do inter-comunicador, e então diga lá?
- Pois é, meu caro, resolvi cá vir para um desabafo.
Os olhos e o queixo do Dr. Marta acenaram-lhe uma ajuda,um incentivo.
- É que ando moído de ralações.
- Não me diga, nada de saúde espero?
- Não, nada disso felizmente, é mais a situação lá do Banco.
- Sim...
- Gostava de saber se o BdP já tem os nossos últimos reports?
- Temos o que nos mandou. O habitual. Mas sempre pergunto. Há algum problema?
- Não, não. não é isso. Não há nada! É mais a minha personalidade ansiosa que me prega partidas. E queria vir cá para lhe garantir que estamos com um desenvolvimento muito interessante, quer nos activos de curto prazo, quer nas perspectivas na Argélia. E, sabe, à medida que vejo estes desenvolvimentos, e dentro da maior clareza, acho que o BdP podia querer ter um conhecimento em tempo real destas coisas. É que não sei se sabe, e sentou-se mais na beirinha do sofá, eu tenho lá umas acções, coisa de família...e não sei se um dia não volto à política...
- Claro, claro, fico-lhe grato. Se por um lado gosto de saber como vão as coisas - ora aí estão os cafezinhos, com adoçante, como eu? - Pode deixar D. Guida, que nós próprios mexemos.
- Os jornais do Sr. Dr. já estão na sua secretária...
- Pois, pois, pode deixar. Onde é que íamos?
- Como vão as coisas lá no Banco...
- Claro, na Argélia suponho é mais chá? Aqueles árabes...
- E tendo lá aquele dinheiro da família, sabe como é, agora todos se preocupam com rentabilidades...
- Mas sobre esse aspecto o que tenho sabido é que vcs lá no banco conseguem belas taxas de remuneração...a família só pode estar grata...LOLOLOL
- Isso é verdade, mas o que me preocupa mesmo era saber se por acaso está prevista alguma supervisão, que queria, como dizer, estar preparado com todos os dossiers...nunca se sabe quando se deve voltar à política... e entretanto queria garantir-lhe comigo lá, tudo é escrutinado e nada passa sem o meu visto que não quero que um dia as pess...
-Não se preocupe meu caro,(cortando-lhe a palavra!) nós estamos aqui com funções de supervisão mas também de acompanhamento. E ainda há pouco despachei qualquer coisa sobre o BPN, sobre aquela compra no Zimbabwe, era no Zimbabbwe não era? Ou em Cabo Verde? Olhe, já não sei, isto é uma roda viva!
- E deixou arrefecer o café. Quer outro? Não?
- O que queria mesmo era que não ficassem quaisquer dúvidas que tudo está a correr pelo melhor e que os investimentos que fizemos vão começar a pagar uns dividendos que parecem a árvore das patacas; Sorriso largo e quase fixo.
- Fico-lhe agradecido, e se toda a gente procedesse desta maneira tirava-nos imenso trabalho e precupações. Pois também aproveito para lhe dizer quanto apreciamos a sua visita e sempre que tiver necessidade, já sabe, esta também é a sua casa.
- Oh meu caro, é bondade sua, não calcula como vou mais aliviado. Posso pedir à sua secretária para marcarmos um almocinho? No Tavares não, que aquilo já não é como era.
- Isso e verdade, esteja à vontade. Marque. marque.
A mesma mão nas costas até à porta, a mesma D. Guida dos cafés frios, do decote fundo, e da promessa da água com gelo. Um aceno final, as escadas de mármore rosa, a porta da rua, e que bela que é esta cidade pombalina!
Fim!

2 comentários:

mdsol disse...

Ora bem! Estamos então conversados!
:)))

Anti PS Neoliberal disse...

Excelente, já agora gostava, se não lhe desse muito trabalho, criar um texto com outros intervenientes, por exemplo Jorge Coelho, mais conhecido por D. Coelhone e o outro interlocutor deixo ao seu critério.