terça-feira, setembro 20, 2005

A ideologia de rabo de fora e o belo canto



Tenho a certeza que, pelo menos, o título é original.
O que é difícil, depois de tantos e tão qualificados pensadores se terem pronunciado sobre a matéria.
Uma das mais recorrentes ofensas ao main stream seria a horrível alusão a esquerda e direita.
Não menos insuportável é a abominação relativa á existência de classes sócio-económicas.
Ou de interesses antagónicos entre elas.
E então já se entra no domínio da anedota se falarmos de ideologia dominante; qualquer alusão depara com gigantescos bocejos, com pequenos assobios para o lado, com amáveis sorrisos comiseratórios da nossa incapacidade para perceber o mundo:
Para quê ler a "Filosofia da Miséria"? De que vale ter compreendido a resposta que propiciou?
A Rosa Luxemburg quem é? O que escreveu?
E então o famigerado Marx é estudado e discutido? T'arrenego satanazes !
Xenofonte é uma marca de consumíveis para fotocopiadoras, não é?
"As vinhas da ira" são no Irão?
É que afinal esses são só instrumentos de análise da realidade. Pode até não se concordar com isto ou aquilo. Mas que o método proposto foi inovador, abrangente e interpretativo, não precisa de demonstração. Foi como inventar a lente, o telescópio, o microcópio...
Aliás, sou eu o primeiro a sorrir, quando estes novíssimos intérpretes da realidade nos vendem análises com reagentes frouxos, com catalizadores sem vitalidade, com lentes embaciadas. Análises sempre baseadas nas acções individuais de alguém que não gosta de outro alguém. Com motivações retiradas dos romances do Camilo. Como na história-de-reis-e-de-batalhas, que ensinam afincadamente às crancinhas. Tal como as ligaduras com que os chineses deformavam os pés das crianças. Tal como a aristrocacia italiana mandava castrar uns tantos cantores jovens para continuarem a cantar como sopranos. Por acaso, essa operação era executada sempre, nos genitais de meninos das classes inferiores. Sem títulos de nobreza, militares, religiosos. Sem terra. Estamos perante uma de duas impossibilidades:
Ou de facto os filhos dos militares, os bastardos da igreja e os filhos dos nobres não tinham o necessário que se cortasse, ou então ainda é pior, a castração era praticada sobre os mais pobres, os infelizes, os desprotegidos! Que raio de escolha, dirão.
Estava eu a falar da ideologia e vim aqui parar!

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