terça-feira, setembro 20, 2005

Para compreender a ideologia


Logo após o 25 de Abril de 74 veio parar-me às mãos a análise que, do acontecimento, fazia a Frelimo, ao mais alto nível.
E no meio da minha euforia que provocavam as notícias da liberdade em Portugal e do novo espírito para com os povos colonizados, aquilo foi um duche frio!
Então não era que o CC da Frelimo dizia com todas as letras que o "golpe militar dado em Lisboa" não passava disso mesmo. De um golpe dado pela hierarquia militar que, derrotado na frente de batalha, era destinado a proporcionar outras formas de perpetuar o colonialismo e que o exército colonial continuava a ser o inimigo em Moçambique.
A História encarregou-se de lhes dar razão!


Como hoje se sabe, os autores do golpe militar - que até poupou a vida a TODOS os elementos do anterior regime, torcionários à mistura e tudo - foram ultrapassados pela onda libertária que varreu três continentes.
Na época a Frelimo tinha uma ideologia, um método de análise, e retirava dos factos as consequências que muito bem entendiam.
Decorridos trinta anos o carácter classista da instituição militar em Portugal voltou a cristalizar no que sempre foi: Destinatários de dignidades reluzentes e de mordomias entorpecentes os militares organizados à volta de proto-sindicatos de classe, exigem da restante sociedade tratamento excepcional para si e suas famílias! Sem atenderem, sequer, à legitimidade do poder democrático instituído. Sem atenderem que, não havendo para os outros, os militares não podem ser os mais beneficiados. Têm que ser os mais modestos!
O tempo das armaduras brilhantes, dos penachos e dos cavalos em parada já era.
Só falta mesmo passarem da ideologia à prática.

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