terça-feira, setembro 27, 2005

Mar e Céu , pedaço de poesia


....Tudo o que em nós é atavicamente marítimo
Que tinge de sangue as areias
Que arremete em ginetes de espuma
Que vai morrer entre as ameias
De moventes castelos de bruma
Tudo o que estando parado avança
E fechado e às escuras é brisa
E é de si a mítica lembrança
Em terras que não vê e não pisa
Tudo o que tem íntima cordagem
Enxárcias cabos correias
Para o maquinismo das viagens
Dos ciclones que cortam as veias
Tudo o que é estrela achada
Pelo uso psíquico da balestilha
E que dos seus sonhos faz uma jangada
Os cerca de névoa e nasce uma ilha
Tudo o que fundeia no ancoradouro
Do subconsciente movediço
E que traz dessa ilha do tesouro
Feições do tempo em que se era embarcadiço
Tudo quanto é batalhas navais
O que em nós subsiste de remos e velas
Metafísicas Índias Ocidentais
Raças azuis em vez das amarelas
Tudo o que é naufrágio e deixa no mundo
Exilado em nós seu errante vulto
Tudo o que no cimo é barco e no fundo
É piloto afogado entre corais sepulto.

Natália Correia em Cântico do País Emerso.1961.

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