quinta-feira, novembro 10, 2005

De Eisenhower a JPP

O falecido Presidente americano Dwight Eisenhower, republicano de gema e que nunca tirou grandes notas em sociologia política( também não sei se ele sabia o que isso seria), disse um dia esta frase que, guardada no tempo, serve a JPP que hoje, mais um avez, explica no Público as vantagens do sistema Bush, sobre os estúpidos europeus que insistem em ter uma segurança social: É ler e tirar as conclusões:

"Should any political party attempt to abolish social security, unemployment insurance, and eliminate labor laws and farm programs, you would not hear of that party again in our political history. There is a tiny splinter group, of course, that believes you can do these things.
Among them are .. a few .. Texas oil millionaires, and an occasional politician or business man from other areas. Their number is negligible and they are stupid."
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President Dwight Eisenhower, Republican,November 8, 1954
Mas para JPP o raciocínio é simples: Agora chama aos levantamentos juvenis apenas "violência política" e pronto, compara-os de seguida com as Brigadas Vermelhas (é verdade, está no Público) e com as 25 de Abril, afirma que os que aceitam essa violência ( quem foi ? ) usam uma sociologia de pacotilha.
A fórmula é velha e gasta. Mente-se sobre o que ninguém disse e, de seguida, classifica-se o mentiroso de ignorantee perigoso.
Mas trai-se pelo caminho e deixa cair estas pérolas:
" Antes os proletários deveriam fazer a revolução violenta ( Esperem, ele tem outra)porque eram explorados e a sua "mais-valia" apropriada pelos capitalistas, agora os jovens revoltam-se porque não têm "esperança no futuro".
Portanto Dr.PP o Sr. tem uma outra análise da formação do valor e da riqueza? O trabalho realizado já não é mais valioso do que aquele que é pago?
Então Dr.! Vamos a escrever essa nova teoria que tanta falta nos faz.
Trate de explicar isso aos milhões de assalariados a quem sobra mês, e falta dinheiro!
Que aos desempregados não vale a pena. Ou atrapalha-se?
Até mesmo os patrôes, os assalariadores, os sub-empreiteiros dos sub-empreiteiros, dos sub-empreiteiros dos sub-empreiteiros, lhe agradeceriam essa maravilhosa teoria que lhes permitiria nunca pagar impostos sobre o trabalho realizado ou sobre o trabalho pago.
As mini empresas de trabalhadores precários que realizam as grandes obras para as empresas gigantes que ganham os concursos públicos por esse mundo fora estão à espera dessa sua explicação!
Não me diga que nunca ouviu falar que os portugueses dos séculos XVi e XVII autorizavam os escravos, no Brasil, a trabalhar umas horas, por dia, nas hortas para proverem ao seu sustento, e das suas famílias? Nunca percebeu a habilidaade da coisa? Marx provavelmente não sabia desta habilidade dos portugueses de então. Teria poupado tempo a explicar a formação da riqueza e o valor do trabalho.
Nem percebeu ainda o real significado do ordenado mínimo e dos subsídios de desemprego nas sociedades capitalistas avançadas?
Só mais um bocadinho, se não se importam?:
" Há desemprego, guetização, marginalidade( ou exclusão/xenofobia?), exclusão e racismo, mas há também outras causas de que se evita falar, tão sociais como as anteriores, como seja o efeito sobre populações deprimidas ( porquê deprimidas? por estarem em França sem trabalho e sem finalidade na vida?) da intensa subsidiação do providencialismo do Estado, gerando expectativas artificiais e um direito de reivindicação( já lá vamos Dr., não se moa!), cada vez mais incomportável numa Europa em declínio, da recusa do trabalho ( ora esta! ele meteu aqui a recusa do trabalho sem fazer parte da receita dos problemas! Então Dr.! Os miúdos de 13 -20 anos, os malandros, não querem trabalhar? Madraços! e querem o quê?) , por uma "vida de rua" sem controlo, nem "patrão", de discriminações sexuais de origem cultural e religiosa que têm a ver com a ideia patrimonial da mulher muçulmana, pelos homens da sua família. ( Os meus leitores são testemunhas que eu não o interrompi agora, nesta melhor tirada de sociologia do Corão e do papel da mulher na família muçulmana).
E pergunto se é preciso mais para nos fartarmos de rir?
Ou de chorar talvez. A isto chama-se um politólogo português do sec.XXI. Um analista político com página aberta nos diários que desejar e nas televisões que preferir.
Quantos anos é que andámos para trás, depois do 25 de Abril?
Tem que ser para antes de 54 visto até o Gen Eisenhower, já nessa data, chamava estúpidos aos que defendiam a ausência de apoios sociais e de factores de inclusão na sociedade.
Depois PP diz que comparado com os bidonvilles os actuais guetos são "paraísos", que "se condena a polícia(?), e acha mal a "culpabilização dos políticos".
Não escreve uma vez o nome do Sarkozy nem da repressão que aí vem.
Nem uma palavra sobre as promessas de melhores apoios, mais emprego e melhor integração dos excluídos já determinados pelo estúpido governo francês!
Só em Portugal é que ele condena os políticos, quando o partido em que milita, não está no governo, bem entendido!
Não sei a que propósito é que ele meteu na sua "receita de solução dos problemas" aquela das mulheres muçulmanas e do seu papel na família.
Querem ver que há um papel diferente , da mulher, nas famílias dos muçulmanos e que só ele conhece? Qual será? Diferente das outras mulheres, das outras famílias, das outras religiões, no mesmo estágio de desenvolvimento das sociedades?
Que papel será esse que determina que, os jovens antes de se integrarem na sociedade, devem sair à noite e queimar carros?
Valha-o Deus!
Seguem-se os perturbantes ciúmes dos neo-nazis e das "acções punitivas drásticas" contra eles voltadas, caso fossem esses os autores dos desacatos...

1 comentário:

Geosapiens disse...

...um ótpimo post...muito bem fundamentado...titubeante...mas eficaz...um abraço...