domingo, novembro 13, 2005

Mia Couto, na poesia de domingo


SAUDADE (...)
Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se nas pupilas desatentas
Seja eu de novo tua sombra,
teu desejo,
tua noite sem remédio tua virtude,
tua carência eu que longe de ti sou fraco
eu que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raíz exposta
Traz de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda em mim
os animais que atormentam o meu sonho.

Mia Couto (Moçambique)

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