De facto, como eu os entendo:
Passadas as passas dos Algarves , sem profissão, carentes de tudo, depois de revoltados com a sua situação à partida da terra e da família, uma vez chegados, deitaram-se ao trabalho disponível. a tudo o que encontraram. Em estado de necessidade.
Foram ajudantes de ajudantes, limpadores de tudo que andava sujo, apanhadores da fruta que nunca tinham visto alinhada como os soldadinhos, foram varredores das fábricas onde outros que sabiam ler os olhavam quando olhavam, de pé em todas as filas de todos os serviços de emprego e de desemprego, comeram o pão que o diabo amassou e até sobrado das mesas, acabados os serviços de jantar, esperaram pelos Serviços Sociais que lhes dissessem onde podiam viver, viram os filhos nascer e ir para escolas aprender o-que-não-sabiam-que-não-sabiam, e, suprema ironia, começarem ou a rir-se deles ou a "compreendê-los", perseveraram, a todos serviram e de quase todos receberam dose abundante de incompreensão, muito ultraje, todo o paternalismo e discriminação possíveis. Muito racismo, até.
Como eu os entendo!
Despojados da sua cultura, mesmo da sua alimentação tradicional, comparados com outros emigrantes, sentiram a carga negativa da sua origem, da sua terra que é pobre, de que os jornais só falam quando acontece um desastre, metem-se em guetos aculturais de saudosas sardinhas e música pimba.
Os filhos crescem e mudam de nacionalidade, já não querem passar as férias na terra, na casa nova e fria e inacabada, no deserto de amigos e de laços culturais a que deitar mão.
Resignados a um fado, que é sorte, mas é amargo, à primeira oportunidade de emergirem da desclassificação, da marginalização a que foram votados, agarram-se como náufragos à oportunidade de se reverem em algo que seja português e que seja bom e reconhecido!
Lá da nossa terra!
Seja pois o futebol!
Como eu vos entendo!
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