segunda-feira, outubro 24, 2005

A Riqueza das Nações e a própria


Eu sei que não é fruto de um plano maquiavélico, com dez anos de apodrecimento, que Cavaco Silva se nos apresentou, respaldado por uma dúzia de bandeiras nacionais .
Não acredito que alguém tenha uma mente tão perversa ao ponto de, após ter deixado a casa armadilhada, a ela voltar, passados dez anos, olhando os cadáveres despedaçados dos inimigos e tirando do bolso, o mapa das bombas que, afinal, sempre tivera.
E não só diz que tem o mapa das bombas - o tal programa - como no-lo mostra em jeito de salvador do que resta: vem ajudar-nos, promete! Vem salvar-nos, garante!
E não só nada nos diz sobre a tempo em que colocava os detonadores - quando foi primeiro - como, à surrelfa se promove, na base do seu desaparecimento nas brumas do nevoeiro.
É um jogo de sombras e de enganos. Nunca lá esteve e por isso não nos podia ter ajudado. E não nos ajudou, pois andava ocupado a produzir o seu próprio nevoeiro.
Evidentemente que não é político. Melhor, ainda não é político. Ainda melhor, só será tal coisa, caso nós nos dobremos e o veneremos qb, que ele está-se nas tintas para cada um de nós. Ele só serve Pátrias. Inteiras. Family size. Nada menos!
A dimensão do problema - nisso, tem ele razão- já não permite pequenas cirurgias, requer amputações e suportes artificiais de vida. Já não cabe dentro de um Partido, ( acabou de rasgar a sua filiação), tem a dimensão do palco, é um novo manto, pós-partidos, a cobrir de esperança o povo inteiro. A Pátria.
E o tal programa é como ele próprio. Só serve para ser aplicado na chamada macro-economia. Em grandes desígnios. Urbi et orbi. No melhor dos estilos e pouco conteúdo.
De um golpe, anula a concorrência agitando um programa que ninguém tem igual. E que não se envergonha de ter produzido sozinho, de noite, na fase pupa da sua metamorfose. Num exercício sem contraditório e infinitamente inevitável.
Por outro lado, prepara já a nova caminhada em direcção ao poder absoluto, ao presidencialismo, atirando para as galés e para o desterro essa chatice chamada Constituição que consagra no primeiro-ministro os poderes que ele, O Salvador, O Iluminado, O Professor de Economia e de Finanças, tanto almeja.
Todos os iluminados da História se apresentaram quase nus e, quando sairam de cena, quem estava com uma mão atrás e outra à frente, eram os destinatários dos milagres e das aparições.
Daquele economista não sairá nunca uma ideia sobre a riqueza da Nação. Adam Smith pode dormir para sempre.
Daquele financeiro nunca se ouvirá uma ideia própria sobre finanças. James Tobin, americano e prémio Nobel em 1981, pela sua análise dos mercados financeiros e da relação com os investimentos, o emprego, a produçãso e a formação de preços, também pode continuar tranquilo.
Cavaco Silva não é ao Nobel que concorre. É ao prémio que a alta finança portuguesa lhe promete. A troco de quê?

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